Logística prejudica a competitividade de grãos brasileiros

Custos com frete no Brasil são muito altos, já que boa parte dos produtos são transportados por rodoviasEste ano, há uma expectativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para que a safra 2009/2010 de milho e soja seja quase 5% maior que a anterior. O Brasil deve colher no período 2009/2010 a segunda maior safra de grãos da história, de acordo com as previsões do governo. Porém, para a Associação Brasileira dos Exportadores de Cereais (Anec), o setor pode não ter muito o que comemorar.

Os custos com o frete no Brasil são muito altos já que boa parte dos grãos são transportados por rodovias. Um estudo feito pela entidade reafirma a tese de que a logística prejudica a competitividade dos grãos brasileiros em relação a outros importantes exportadores. Segundo a associação, o preço médio pago ao produtor de soja e milho aqui foi o mesmo na Argentina e nos Estados Unidos. A diferença foi o custo do frete, que fez o produtor brasileiro sair perdendo.

Nos cálculos da Anec, entre janeiro e novembro do ano passado, o valor médio ao produtor de soja e milho ficou em US$ 399 por tonelada no Brasil, na Argentina e nos Estados. Mas, para os brasileiros, a despesa com logística chegou a US$ 84 por tonelada. Bem acima de argentinos (US$ 23) e americanos (US$ 21). Ou seja, um custo quatro vezes maior.

? A Argentina consegue preços menores porque percorre trajetos menores, com uma média de percurso de 200 quilômetros. A média do Brasil é de 1,1 mil quilômetros, parecida com a americana, só que mais de 60% da soja americana é transportada por hidrovias que é o custo mais barato que existe: custa um quinto das rodovias ? disse o diretor geral da Anec, Sérgio Mendes.

São as rodovias o motivo da despesa maior do produtor de grãos no Brasil, segundo o consultor portuário Marcos Vendramini. Cerca de 65% dos grãos e minérios do país são transportados por caminhões. Considerando uma rota a partir da região Centro-oeste, um trajeto de 500 quilômetros pode custar, em média, R$ 68 por tonelada. O especialista explica que, por ferrovias, esse custo seria de 25% a 35% menor. Nas hidrovias, essa redução poderia chegar a 45%.

? O Brasil é um país com dimensões continentais, com malha predominantemente rodoviária, ou seja, é uma rede de transporte burra. Não existe nenhum país com essas dimensões e com essa participação de transporte rodoviário ? defendeu Vendramini.
 
O consultor defende ainda melhorias na infra-estrutura dos portos do país, assim como uma organização de operações que leve em conta o calendário da safra de soja e de milho.

? Só não precisa assim de portos novos a curto prazo. É preciso aumento da participação do modal ferroviário, a utilização de armazenagem independente que dá maior margem para o produtor trabalhar e a otimização da capacidade de terminais aproveitando a alternância da safra de milho e soja ? concluiu Marcos Vendramini.