O produtor Gláucio de Castro exporta três mil sacas de café por ano. Em agosto, ele conseguiu fechar contrato com crédito antecipando no valor de 360 sacas. Os juros ficaram em 7,6%, na época sem limite de recursos. Mas no início deste mês o cafeicultor encontrou dificuldades para negociar por meio do adiantamento de crédito de câmbio. Como precisava do dinheiro fechou a venda de apenas 55 sacas, só que os juros aumentaram para 12,6%. Castro teve que mudar a programação da próxima safra e trabalha com prejuízo mesmo com o dólar em alta, que teoricamente deveria favorecer os exportadores.
O café produzido no Cerrado representa cerca de 10% das exportações do país. Mais de dois milhões de sacas são exportadas por safra, volume que deve se manter neste ano porque os contratos foram efetivados há seis meses. A crise deve se refletir nos números de 2009. As negociações estão travadas no mercado futuro e os produtores têm dificuldades na venda física do produto.
De acordo com o gerente comercial da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado, o café é uma commoditiy que gira até dez safras no papel. O grão é o segundo produto mais especulado nas bolsas. De olho no computador, atualizado a cada dez segundos, João Ferreira Junior acompanha as incertezas provocadas pela crise financeira. O cuidado com a qualidade do café não está fazendo diferença neste momento em que os exportadores e as cooperativas não conseguem captar recursos para girar a engrenagem da comercialização.