Essas foram algumas das conclusões apresentadas nessa semana por especialistas em bioenergia na Convenção Latino-Americana do projeto Global Sustainable Bioenergy (GSB), realizada na sede da FAPESP, em São Paulo.
O principal desafio proposto pelo GSB consiste em responder, de forma consistente, se é possível substituir 25% do petróleo utilizado no setor de transportes por biocombustíveis, sem comprometer a produção de alimentos e os habitats naturais.
Para Roldolfo Quintero, professor da Universidade Autônoma Metropolitana (México), um grande número de estudos, levando em conta diferentes cenários, indica que é possível realizar a substituição de 25% de biocombustíveis em todo o mundo.
? Acredito ser mesmo possível atingir essa marca com um esforço científico que aumente a produtividade dos insumos utilizados para fazer o biocombustível. É necessário, no entanto, que nos afastemos das culturas empregadas na alimentação. Entre os biocombustíveis, o etanol é a melhor opção, mas o etanol feito de milho não é, definitivamente, uma boa resposta para o problema ? disse.
Segundo Quintero, há um consenso geral em relação à capacidade dos biocombustíveis para contribuir com a segurança energética, com a mitigação das mudanças climáticas e com o desenvolvimento social e rural.
? Na minha opinião, o foco deve ser o etanol, que hoje corresponde a 77% da produção de biocombustíveis. Essa produção é liderada pelos Estados Unidos e pelo Brasil, que, juntos, dominam 81% dos biocombustíveis e 91% do etanol. No entanto, precisamos observar que a porcentagem de redução de gases de efeito estufa obtida com o etanol de cana-de-açúcar é expressivamente maior do que a obtida com o etanol de milho ? disse.
Os questionamentos relacionados às mudanças no uso da terra provocadas pelo etanol ? cuja produção poderia substituir o uso da terra para agricultura ? são decorrentes unicamente do uso de milho para fabricação do biocombustível, na opinião do mexicano.
? Só o etanol de milho ameaça a agricultura e a segurança alimentar ? afirmou.
Segundo ele, os Estados Unidos são os maiores exportadores do mundo de milho, vendendo o produto para mais de 90 países.
? Esses países importadores podem sofrer as consequências se a produção de etanol de milho tentar suprir a demanda mundial de etanol ? disse.
O México, segundo Quintero, importa dos Estados Unidos 10 milhões de toneladas anuais de milho ? o equivalente a um terço do consumo mexicano do cereal.
? Em 2009, os Estados Unidos produziram 10,6 bilhões de galões de etanol, o que necessitou de 18 milhões de acres de plantio de milho, ou cerca de 21% da área total dedicada à cultura ? afirmou.
Quintero acrescentou que o desenvolvimento tecnológico terá um papel crucial no futuro dos biocombustíveis.
? A tecnologia tem muito potencial nesse campo. Se a segunda geração de biocombustíveis entrar em cena nos próximos anos, o cenário será consideravelmente alterado. Há grande progresso nesse sentido. O número de patentes relacionadas a biocombustíveis cresceu de 147, em 2002, para 1.045 em 2007. Já existem mais de 60 plantas piloto para testes com etanol celulósico em países como Brasil, Estados Unidos, Canadá, Espanha, Alemanha, Dinamarca, Suécia e Japão ? destacou.