Soja

Produtividade da soja aumenta 100% após consórcio com braquiária

Pesquisa realizada pela Embrapa analisou áreas da oleaginosa em Sergipe, Alagoas e Bahia onde a gramínea foi plantada em consórcio com milho no ano anterior

Foto: Madson Maranhão / Governo do Tocantins

Um estudo realizado no campo experimental Jorge Sobral, mantido pela Embrapa Tabuleiros Costeiros, em Aracaju (SE), mostrou o grande potencial da braquiária associada a boas práticas no cultivo de milho e soja na melhoria do solo, na disponibilidade de pasto para os animais em sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e no grande aumento da produtividade. A pesquisa levou em conta a região da Sealba, considerada a nova fronteira agrícola do Nordeste, que demonstra alto potencial para culturas diversificadas em Sergipe, Alagoas e Bahia.

Os resultados iniciais verificados na colheita das parcelas experimentais mostraram que as áreas de soja onde a braquiária foi plantada em consórcio com milho no ano anterior tiveram o dobro da produtividade. Os dados consolidados deverão ser apresentados em seminário que acontece em novembro.

Mesmo em um ano ruim de chuvas na região, como 2018, em que produtores da região perderam quase a totalidade de culturas como milho, a parcela onde foi feito o tratamento ideal, com plantio direto na palha e consorciamento de milho com braquiária no ano anterior, apresentou quase 2 mil quilos por hectare de produtividade, frente a uma variação entre 850 quilos e 1,04 mil quilos por hectare nas parcelas em que não se usou a gramínea.

“Ao longo do desenvolvimento da cultura no experimento, já vínhamos observando a diferença clara entre as parcelas de soja nos aspectos de tamanho de plantas e das vagens e enchimento e peso dos grãos. E com os dados iniciais da colheita essa diferenciação foi comprovada”, explicou o pesquisador Sérgio Procópio.

Edson Patto, que também participou do projeto, comenta que mesmo nas parcelas em que foi aplicado o plantio direto, mas sem usar a braquiária, a produção obtida foi a metade. “Isso mostra que essa prática, mesmo sendo muito importante para a sustentabilidade das culturas, sozinha não é capaz de fazer milagres. Já o uso da braquiária associada às demais boas práticas pode significar a salvação da lavoura, especialmente num ano de pouca chuva como este, ou de precipitações em excesso como 2017, que também pode prejudicar a cultura pelo encharcamento do solo”, avalia.

Braquiária atua como cobertura morta na soja. Foto: Saulo Coelho/ Embrapa

Proteção do solo

Estudos realizados pelos pesquisadores em anos anteriores têm demonstrado as propriedades da braquiária na melhoria do solo. “Numa região de chuvas irregulares como a região tabuleiros costeiros do Nordeste, o uso da braquiária nesses sistemas de grãos pode auxiliar atuando como cobertura morta na retenção de umidade no solo em um ano seco, bem como na prevenção de encharcamentos em anos chuvosos pelo fato de sua raiz atuar descompactando o solo”, afirma Patto.

Para o produtor sergipano José Sizenando, a braquiária já é uma realidade. “Eu já venho plantando a braquiária em consórcio e rotação com milho e sorgo na minha propriedade há duas safras com sucesso absoluto, e vejo essa perspectiva de sucesso com a soja como o futuro, num caminho sem volta”, afirmou.

De acordo com os pesquisadores, os estudos devem continuar ainda por mais alguns anos para conferir maior confiabilidade aos resultados e definir protocolos e recomendações técnicas específicas adaptadas para os produtores da região.

Método

O experimento foi instalado de forma que as técnicas aplicadas nas parcelas tivessem variação gradual de uma para outra, sendo a mais elementar plantada de forma convencional e simples – sem plantio direto, sem rotação de culturas e sem uso da braquiária. O experimento evolui gradativamente, com adição de uma boa prática em relação à parcela anterior, até chegar na última e mais completa, que combina o plantio direto na palha, a rotação com milho e o consórcio com a braquiária.