Mundo aprova flexibilidade do câmbio chinês, mas mantém cautela

Início da valorização do yuan não deve causar aumento de preços para produtos chinesesUma onda de otimismo cauteloso se seguiu ao anúncio de que a China aceitará valorizar sua moeda depois de manter câmbio fixo por 23 meses. Depois do comunicado oficial, no sábado, o Banco Popular da China voltou a se pronunciar nesse domingo, avisando que a "flexibilidade" da moeda local será adotada de forma gradativa.

Decisão esperada há muito tempo pelos países que competem com a China no mercado internacional, a desvinculação do yuan ao dólar foi elogiada por líderes mundiais. Até o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, emitiu comunicado, numa demonstração da importância da medida para o país e para o comércio internacional. Mesmo em tom de apoio, as reações foram cautelosas porque o efeito da medida dependerá muito da forma como for implementada.

? É preciso aguardar os próximos desdobramentos ? afirmou em nota Henrique Meirelles, presidente do Banco Central do Brasil.

O comunicado desse domingo do banco central chinês, que advertiu não haver “base para grandes flutuações ou mudanças”, reforçou o cuidado. Há quase dois anos câmbio chinês está fixado em cerca de 6,83 yuans por dólar.

Entre as razões do anúncio está a preocupação da China de não se transformar em principal alvo de críticas na reunião do G-20 prevista para o próximo final de semana.

Brasil favorecido

Há mais de uma década, o câmbio artificialmente baixo da moeda chinesa ajuda a tornar os produtos de exportação do país ainda mais baratos. Reforça, assim, outras vantagens competitivas da China no comércio internacional, como o baixo custo da mão de obra e as boas condições de negociação de matérias-primas, devido ao alto volume das compras.

A combinação desses fatores tornou o Made in China imbatível no mundo todo, ao ponto de comprometer vários segmentos da indústria em diferentes países. O mesmo ocorreu no Brasil, onde o governo adotou mecanismos de proteção comercial contra diversos produtos exportados pela China.

É por isso que, para os chineses, a decisão causa temor. A Câmara de Comércio da China para Importação e Exportação de Máquinas e Produtos Eletrônicos avaliou que “a apreciação do yuan no longo prazo certamente terá muitos impactos negativos na indústria”. Conforme a instituição, a indústria chinesa já está sob pressão de custos mais altos e da competição com outros países.

O início da valorização do yuan não vai fazer com que os produtos chineses fiquem muito mais caros. Apenas devem perder, aos poucos, uma pequena parte da atratividade que marcou a exportação na última década. Até para não desacelerar o ritmo da locomotiva do Leste.