A medida é o primeiro sinal de recuo por parte do governo argentino diante da crise com o campo.
Durante pronunciamento feito nessa terça-feira, dia 17, em Buenos Aires, Cristina declarou que o objetivo é dar mais peso à decisão. O anúncio transmitido em rede nacional ocorreu após uma série de manifestações em todo o país, nas quais lhe foi requisitado que retome o diálogo com os líderes rurais, suspenso há três semanas.
O debate no Parlamento era exigência dos produtores agropecuários, que há 99 dias estão em pé de guerra com o governo. Desta forma, os ruralistas, primeiro setor econômico a desafiar o poder do denominado “casal presidencial” (Cristina e seu marido e ex-presidente Néstor Kirchner), conseguem uma vitória parcial. O próximo embate será no Parlamento, onde o governo – que tem maioria – tentará emplacar os tributos.
Analistas afirmam que muitos deputados do governo, pressionados por seus eleitores nas províncias agrícolas, tentarão encontrar um ponto intermediário entre o projeto do governo e as exigências ruralistas.
Os líderes dos produtores celebraram o anúncio da presidente, mas preferiram uma postura cética.
? Quero ver quando o projeto de lei será encaminhado ao Congresso.Espero que não seja no ano que vem ? disparou irônico, Alfredo De Angeli, da Federação Agrária.
O discurso de Cristina ganhou defesa de Néstor Kirchner, que assegurou a capacidade da mulher de enfrentar o momento de crise. O ex-presidente, que não realizou coletivas de imprensa durante seu mandato (2003-2007), rejeitou a existência de um poder “bicéfalo” na Argentina, como afirmam alguns analistas e a imprensa local.
? Cristina tem seu modo de pensar, ela é a presidente ? declarou Kirchner, que defendeu as chamadas “retenciones”.
O conflito com o setor ruralista está paralisando a economia. O ex-secretário de Programação Econômica, Miguel Bein, afirma que por causa do conflito o país perdeu US$ 3,4 bilhões, o equivalente a 1% do PIB. O confronto intensificou a escalada da inflação e provocou um novo crescimento da pobreza.