Produtores do Rio Grande do Sul se preparam para enfrentar mais um período de seca

Ações simples no campo podem ser decisivas para amenizar os prejuízos na propriedadeEm estado de alerta por conta das notícias que anunciam o retorno do temido La Niña, produtores do Rio Grande do Sul buscam alternativas de manejo para amenizar os efeitos dos períodos de seca. As previsões meteorológicas, nada animadoras, indicam que o fenômeno deve começar a atuar nos próximos meses no Estado, com um cenário de pouca chuva, sobretudo no verão.

Mais conscientes de que o problema é cíclico, produtores estão fazendo a sua parte. E o governo estadual, também. Segundo o secretário estadual adjunto de Irrigação e dos Usos Múltiplos da Água, Mario Soares da Silva, estudos comprovam que em determinadas regiões do Rio Grande do Sul, a cada 10 anos, seis anos são de estiagem, independentemente do percurso do La Niña. Por essa razão, reforça ele, medidas para enfrentar a seca devem ser trabalhadas.

Desta forma, alertam técnicos, agricultores precisam ter um senso de responsabilidade ainda maior quanto à importância na adoção de alguns cuidados simples para minimizar os efeitos das estiagens. O manejo adequado de solo ? aumentando assim a estrutura física com raízes e palha, combinado à diminuição do tráfego de máquinas, é uma das chaves para superar a redução de chuva em anos de La Niña.

E os números comprovam essa teoria. O gestor da área técnica da Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto (Cooplantio), Dirceu Gassen, explica que o solo tem aproximadamente 15% do volume em microporos, eficientes para armazenar a água disponível para a planta. Em 10 centímetros no perfil do solo, há espaço para armazenar 15 milímetros de chuva. No entanto, se o solo for manejado com a rotação de cultura, adubação verde e redução no passeio de máquinas nas lavouras, poderá aumentar a armazenagem para mais de 25 milímetros.

Para Gassen, no Rio Grande do Sul, em geral, não há falta de chuva e, sim, precipitações concentradas em determinados períodos.

? O Estado tem chuva abundantes nas médias de todos os meses do ano. A dificuldade está na armazenagem da água para períodos de estiagem, que sempre ocorrem nos meses de verão ? acrescenta Gassen.

Outra alternativa para superar o período de seca é a irrigação. O governo do Estado, por meio da Secretaria Extraordinária de Irrigação e Usos Múltiplos de Água, vem desenvolvendo projetos que auxiliem, sobretudo os pequenos produtores, os mais prejudicados com as secas. O programa Pró-Irrigação atua em duas frentes: construção de microaçudes e construção de cisternas.

? Os açudes estão distribuídos por todas as regiões, já as cisternas se concentram mais em áreas produtoras de suínos e avicultura, locais que necessitam de uma água mais limpa, do que para a agricultura ? detalha Silva.

Com os investimentos feitos nos últimos quatro anos, o Rio Grande do Sul já tem alguns instrumentos substanciais para driblar as secas, avalia o secretário adjunto, mas ainda não é o suficiente, pela dimensão do Estado:

? Para não passarmos dificuldade, precisaríamos, no mínimo, do dobro de investimentos.

Desde o mês passado, conforme a Somar Meteorologia, é possível observar um processo de resfriamento das águas do Oceano Pacífico equatorial, indicando a volta do La Niña e alterações no clima nesta primavera. O resfriamento das águas do Oceano Pacífico equatorial deve aumentar gradativamente durante o inverno, com o La Niña completamente configurado durante a primavera, permanecendo no próximo verão. A previsão é de um episódio de intensidade moderada a forte e deve durar pelo menos até o outono de 2011.

Depois do El Niño, o La Niña

O fenômeno climático La Niña esteve presente durante todo o inverno do ano passado, dando lugar ao El Niño apenas no segundo semestre de 2009. Nesse período, o cenário climático estava caracterizado pela água do Oceano Atlântico mais quente que o normal, gerando combustível para as frentes frias. Diante desse cenário climático, boa parte do Brasil apresentou um inverno com muita nebulosidade e altos índices pluviométricos.

Meteorologistas da Somar afirmam que, neste ano, com exceção do leste nordestino, a situação será completamente diferente. Embora, para a Somar o último La Niña tenha ocorrido no verão 2007/2008, dadas características como intensidade, rapidez na formação e provavelmente duração, o episódio deste ano está muito semelhante ao observado no segundo semestre de 1998 e no verão 1999. Durante o segundo semestre de 1998, houve um atraso no retorno das chuvas. De maneira generalizada, é possível descrever a etapa como um período de muitos veranicos (períodos sem chuva), que influenciaram na implantação e no desenvolvimento das lavouras de verão.

O aliado plantio direto

O produtor Marcos Roberto Fridrich, 40 anos, planta juntamente com o pai e três irmãos 200 hectares de soja, milho, trigo, aveia e plantas para cobertura de solo, em Ajuricaba, no noroeste do Estado. A família há 20 anos aderiu ao plantio direto e a rotação de culturas e vem contabilizando bons resultados. Mesmo em períodos de seca.

? Com o plantio direto, temos conseguido elevar os teores de matéria orgânica do solo e, consequentemente, conseguimos reter mais água no solo. Então, as plantas conseguem resistir melhor aos períodos de seca ? justifica Fridrich.

A preocupação com a lucratividade das lavouras nos períodos de seca fez com que o agricultor optasse pela rotação de culturas.

? Com mais de uma cultura semeada em diferentes épocas, temos menos riscos do que quem tem todas as fichas em uma aposta só ? explica Fridrich, orgulhoso do rendimento médio obtido no milho, que nesta última safra chegou a 167 sacas por hectare, mesmo sem irrigação.