Apesar dos planos de expansão do mercado contra a febre aftosa no Brasil, um grupo de produtores foi até a Argentina discutir a polêmica retirada da vacina. O debate está apenas começando.
Foi o secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul, Gilmar Tietböhl, quem levou o tema para Buenos Aires. Ele convidou lideranças de outros países que estavam na feira para ajudar na discussão que deve acontecer no Brasil.
? Há alguns Estados, como Minas Gerais e Paraná, que querem um processo um pouco mais rápido. Eles querem já tirar a vacinação dos animais adultos e ficar só com as animais jovens, até 24 meses. Nós não temos esta posição. Respeitamos, mas não temos esta posição. A nossa posição é primeiro discutir todo o assunto. Nós temos que ter certeza da segurança das nossas defesas, porque a retirada da vacina não é um fim em si. A retirada da vacina tem que ser consequência de todo um programa de defesa agropecuária que nós teremos no Estado. Temos avançado muito nisso, mas vamos discutir bastante ? defendeu Tietböhl.
? Nós entendemos que podemos entrar em países mais adiantados. O fator principal não é propriamente a vacina. No momento, a vacina seria mais político, dá status e tal, mas, entre as vantagens que ela dará ao ser retirada e o risco que nós corremos, nós preferimos não correr este risco ? avaliou o presidente da Associação de Criadores de Angus, Joaquim Assumpção Melo.
A equipe do Canal Rural que acompanhou a exposição foi até a empresa responsável pela fabricação das doses que imunizam o rebanho bovino da Argentina.
A fábrica fica em Garín, na região metropolitana de Buenos Aires. No local, um caminhão estava preparado para levar um lote de vacinas para o Brasil. O veículo permaneceu dois dias no pátio da empresa, enquanto eram feitos testes para monitorar as condições ideais de transporte.
A Biogénesis-Bagó produz 14 milhões de doses da vacina contra aftosa por mês, sendo a responsável pelo banco de antígenos da América do Norte. Se algum foco da doença aparecer nos Estados Unidos, México ou Canadá, a vacina será enviada em três dias. Para o Brasil, a empresa produz cinco milhões das 360 milhões de doses de vacina.
? Nós acreditamos que podemos passar no próximo passo para uns 10% de mercado. Mas também não há a possibilidade de nós virmos a ter uma posição hegemônica no controle do mercado brasileiro, visto que temos que atender diversos mercados, e a nossa capacidade de produção está restrita a um determinado volume de doses que não podemos ultrapassar ? diz Rafael Moura Júnior, diretor geral da empresa no Brasil.
Patrício Roan, o diretor comercial da empresa que fabrica a vacina para a Argentina lembra que, quando ela deixou de ser aplicada no país, no final da década de 1990, a doença voltou dois anos depois e a vacinação se tornou obrigatória outra vez.
? Não se pode falar de países, mas de problemas epidemiológicos que são comuns ao Paraguai, ao Brasil, à Bolívia, à Argentina e ao Uruguai. Para ele, todas as decisões estratégicas precisam ser comuns. Hoje, existe a possibilidade que não existia há dez anos de diferenciar quando um animal foi vacinado e tem proteção porque foi vacinado e um animal que tem anticorpos simplesmente porque passou a doença. Nunca deve se deixar de vacinar, para que se tenha uma boa vigilância epidemiológica em toda a região ? disse.
Por enquanto, a única certeza que saiu da Expo Rural 2010 é que o debate deve esquentar ainda mais na Expointer, que começa no final do mês, no Rio Grande do Sul.