O mercado brasileiro de soja em fevereiro foi marcado principalmente pela lentidão na comercialização e pela oscilação regionalizada dos preços. Sem cotações atrativas, os produtores seguiram fora do mercado e ficaram atentos ao desenvolvimento das lavouras.
Especificamente na sexta-feira, dia 1º, o grão encerrou a semana com preços firmes e mais altos na comparação com o fechamento anterior.
A reação nos preços da soja na Bolsa de Chicago (CBOT) ao final do dia e a valorização do dólar sustentaram as cotações no país. Em algumas regiões, a alta foi de até R$ 1 por saca. Confira aqui os valores de fechamento.
Acompanhe abaixo os fatos que devem influenciar o mercado da soja na próxima semana:
1- Guerra comercial entre EUA e China
A falta de clareza em torno das negociações do acordo comercial entre Estados Unidos e China acaba pressionando as cotações da soja em Chicago. Segundo o analista da consultoria Safras&Mercado Gil Barabach, em meio à incerteza, há espaço para o pessimismo e, como consequência, ajustes negativos na curva de preços lá fora.
Vale lembrar que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou o adiamento do aumento das tarifas sobre os produtos da China, que estava marcado para o dia 1º de março. Trump não anunciou uma nova data para este aumento e segue em negociação com o presidente chinês, Xi Jinping.
….productive talks, I will be delaying the U.S. increase in tariffs now scheduled for March 1. Assuming both sides make additional progress, we will be planning a Summit for President Xi and myself, at Mar-a-Lago, to conclude an agreement. A very good weekend for U.S. & China!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 24 de fevereiro de 2019
“Conversas produtivas, vou prorrogar o aumento das tarifas dos EUA, agora marcado para 1º de março. Assumindo que ambos os lados façam progresso adicional, estaremos planejando uma Cúpula para o Presidente Xi e eu, para concluir um acordo. Um bom fim de semana para os EUA e China!”
2- Exportações norte-americanas
A exportações semanais dos Estados Unidos somaram 2,10 milhões de toneladas até o dia 21 de fevereiro. A China responde por 86% deste total, que significa aproximadamente 1,8 milhão de toneladas.
Embora essas vendas tenham ficado acima do esperado pelo mercado, o volume ainda é baixo dado a necessidade escoamento do produto dos Estados Unidos.
Apesar de a China ter prometido compras de 10 milhões de toneladas, os armazéns dos produtores dos EUA continuam cheios.
BREAKING: In Oval Office meeting today, the Chinese committed to buy an additional 10 million metric tons of U.S. soybeans. Hats off to @POTUS for bringing China to the table. Strategy is working. Show of good faith by the Chinese. Also indications of more good news to come.
— Sec. Sonny Perdue (@SecretarySonny) 22 de fevereiro de 2019
“Em reunião no Salão Oval hoje, os chineses se comprometeram a comprar mais 10 milhões de toneladas de soja dos EUA. Tiremos o chapéu para @POTUS (presidente Donald Trump) por trazer a China para a mesa. A estratégia está funcionando. Show de boa fé dos chineses. Também temos indicações de mais boas notícias”, disse o secretário de agricultura dos EUA, Sonny Perdue.
3-Influência do dólar e petróleo
De acordo com a Safras&Mercado, a soja segue muito vulnerável a outros mercados, como o dólar e o petróleo, enquanto espera uma definição sobre a negociação entre EUA e China, o que traz volatilidade à soja na bolsa internacional.
Tecnicamente, o contrato de maio/19 continua em campo negativo. A posição perdeu a linha de US$ 9,10 por bushel, mas ainda acima de US$ 9. A assinatura do acordo deve abrir espaço para correções de alta, mas enquanto isso não ocorre, as cotações devem continuar menores.
No curto prazo, o mercado deve ficar acima de US$ 9, mas abaixo de US$ 9,20 por bushel.
4- Juros nos EUA e reforma da Previdência
O dólar subiu e voltou a testar o patamar de R$ 3,80, abrindo oportunidade de fixação de preços por parte dos produtores. Ruídos externos de uma mudança na política monetária dos EUA, com possível aumentos dos juros em 2019, agitaram o cenário externo.
Aqui dentro, a busca por proteção para o feriado de Carnaval e o risco de diluição da proposta da Previdência deram intensidade ao movimento de alta do câmbio.
5- Safra na América do Sul
A situação climática na América do Sul é mais favorável para a soja. A colheita acelerada e a consolidação da safra do Brasil, depois de perdas iniciais, são fatores de baixa.
A perspectiva também é positiva na Argentina, o que reforça esse sentimento. Uma safra acima de 115 milhões no Brasil somada a 55 milhões toneladas na Argentina, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) elevam a oferta da região em 10 milhões de toneladas se comparado ao ano passado;
6- Comercialização brasileira
O mercado físico interno de soja segue, em linhas gerais, mais fraco. As vendas são pressionadas pelo avanço da colheita da safra e pela vulnerabilidade do mercado externo.
Outro ponto de atenção na próxima semana é em relação ao gargalo de negócios, com a entrada da safra e agravada com a possível concorrência com os estoques dos EUA.
“É interesse o produtor aproveitar repiques no dólar e na Bolsa de Chicago para ir fixando posições, especialmente aqueles “mal-vendidos” de safra nova”, conclui Barabach.
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