Bolívia aposta na soja e produtores recebem preços iguais aos vistos no Paraná

Demanda interna aquecida e produção restrita ajudam agricultores do país a conseguirem bons preços na venda. Brasileiros já estão produzindo soja por lá

Roberta Silveira, de Cuatro Canãdas (Bolívia)
A soja se consolidou como a principal commodity agrícola do mundo. Sua importância comercial é tamanha que a cultura conquista novas áreas a cada dia. Na Bolívia, a soja não chegou recentemente, mas a elevação da rentabilidade tornou a cultura uma opção bastante interessante para os produtores do país. Tem gente conseguindo quase R$ 70 por saca, valor próximo ao negociado em regiões como o Paraná, por exemplo.

Está certo que a Bolívia não é um grande produtor de soja. Por lá, estima-se que a área semeada esteja acima de 1 milhão de hectares, ou seja, menos que muitos estados brasileiros. Já a produção supera a marca de 2,4 milhões de toneladas, segundo dados da Asociación Nacional de Productores de Oleaginosas (Anapo).

A experiência brasileira na produção do grão, explorando a maioria dos estados e solos do país, também ajudou a oleaginosa a ganhar espaço na Bolívia. Há muitos brasileiros produzindo o grão por lá, como Elmo Sanches Flumignan, que deixou Londrina (PR) na década de 1990, para cultivar soja no país andino.

“O Brasil tem um avanço tecnológico muito superior ao que dispomos aqui na Bolívia. Muito do que aplicamos é baseado em experiências que se veem no Brasil. Isso porque não temos aqui uma instituição de pesquisa que nos ajude. O que fazemos é com base na experiência e na bravura do produtor brasileiro”, conta.

Claro que nem tudo depende só das novas tecnologias e um aspecto chama bastante a atenção dos produtores de lá: a fertilidade do solo.

“Na região, a produção de soja é dividida em duas realidades: ao norte de Santa Cruz, com solos menos férteis, mas mais férteis que os do Brasil. E ao leste de Santa Cruz, indo para o Brasil, sentido Corumbá, com solos muito mais férteis e muito mais ainda que no Brasil”, diz o engenheiro agrônomo Rafael Hungaro.

Outra vantagem é o preço competitivo da soja. Apesar de a Bolívia não ter litoral, o que facilitaria o escoamento do produto para exportação, o grão produzido no país tem demanda garantida, já que a indústria local ainda tem capacidade para receber mais soja.

“Isto faz com que o produtor segure o grão até que o preço melhore ou a indústria apresente uma condição de negociação melhor”, conta Flumignan.

Nesta safra, a soja colhida na Bolívia vem sendo negociada por um valor próximo a R$ 70 por saca, ou seja, uma média parecida com praças brasileiras que pagam bem, como no Paraná. “Calculamos que é algo em torno de US$ 340 por tonelada (US$ 20,50 por saca). E será o preço que vamos terminar conseguindo”, diz o produtor brasileiro.

Dificuldades

Mas produzir por lá tem seu preço. Além da falta de tecnologias, os ventos fortes atrapalham muito os trabalhos e afetam o bem estar das lavouras. O vento intenso e constante é uma das características da Bolívia. Se, por um lado, a sensação térmica é mais agradável, por outro, os cultivos necessitam de uma série de cuidados por causa dessa condição climática.

“Uma das principais consequências seria o tombamento, conhecido como acamamento. Algumas plantas acabam quebrando e não produzindo grãos. Outro fator é que a planta acaba perdendo muita umidade, sofre estresse, tem um ressecamento e acaba atrapalhando todo o metabolismo”, diz o engenheiro agrônomo Robson Osmarine.

O especialista Thiago Guimarães afirma que os fortes ventos têm também impacto sobre a pulverização das lavouras. “Pode-se perder boa parte do que está sendo aplicado, principalmente por deriva e por evaporação”, diz o agrônomo.

Parceria Brasil X Bolívia

Empresas brasileiras que atuam na Bolívia realizam treinamentos de funcionários das fazendas locais sobre como melhorar a aplicação de produtos nas lavouras, ainda mais com o clima adverso.

“O Brasil é um exportador dessas tecnologias. Envolve produtos para melhorar o preparo de calda, pontas das máquinas, pulverizadores eficientes. São essas dinâmicas que trabalhamos para melhorar a eficiência nas aplicações”, diz o engenheiro agrônomo Thiago Guimarães Clemente.

Com a troca de conhecimento e tecnologia, o intercâmbio agrícola Brasil-Bolívia já vem dando bons frutos e promete ser cada vez mais produtivo no que depender de quem investe no país.

“É um país de muitas oportunidades para a agricultura e vai ser mais ainda no futuro, quando começarmos a ter uma liberação maior, ou um apoio maior do governo aqui na Bolívia, aí sim a gente vai poder falar em grandes crescimentos do que já existe hoje”, diz Clemente.

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