Guerra comercial entre EUA e China deve ter um vencedor: a soja do Brasil

Analista de mercado faz um raio X da situação e mostra como a relação entre os brasileiros e os chineses pode ampliar os ganhos para o setor

Daniel Popov, de São Paulo
As cotações da soja na bolsa de Chicago abriram esta sexta, dia 23, com uma queda bastante expressiva, de mais de 1,2%. Até ali, boa parte dos operadores eram do mercado asiático, que normalmente usam o primeiro período de abertura da bolsa para negociar. Essa queda foi puxada pelo anúncio chinês de retaliação às medidas protecionistas americanas.

Após o intervalo da bolsa e a entrada dos demais operadores no jogo, essa queda nas cotações foi reduzida. Mas, como isso tudo pode afetar o setor da soja no Brasil, ainda é a pergunta que não quer calar. Segundo o analista da Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez, mesmo se o embate não se estender até a soja, já que a China anunciou que por enquanto a coisa ficará restrita às frutas e carne suína, o país poderá melhorar ainda mais sua relação com os chineses e abrir vantagem como maior exportador de soja para a China.

O mercado nesta sexta

Os contratos futuros da soja negociados na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT) fecharam a sexta-feira com preços em baixa. A tensão comercial entre Estados Unidos e China manteve o mercado sob pressão na maior parte do dia. No final, os analistas corrigiram tecnicamente, reduzindo as perdas. Na semana, o contrato de maio caiu mais de 2%.

Os contratos da soja em grão com entrega em maio fecharam com baixa de 1,50 centavo de dólar (0,14%), a US$ 10,28 1/4 por bushel. A posição julho teve cotação de US$ 10,39 1/4 por bushel, perda de 1,50 centavo de dólar, ou 0,14%.

Nos subprodutos, a posição maio do farelo subiu US$ 9,90 por tonelada (2,69%), sendo negociada a US$ 377,90 por tonelada. No óleo, os contratos com vencimento em maio fecharam a 31,42 centavos de dólar, perda de 0,46 centavo ou 1,44%.

China anuncia retaliação aos EUA

Em um primeiro momento, a retaliação chinesa às medidas protecionistas americanas se restringirá à carne suína e frutas, no que diz respeito ao setor agronegócio. Mas o temor é que essas sanções se estendam também para a soja.

Cerca de 60% das exportações americanas têm como destino a China. Mas a grande dúvida é se a fixação de uma sobretaxa às importações de produto dos Estados Unidos terá mesmo efetividade. Mesmo que a China compre toda a soja brasileira – o que é inviável – e ainda adquira 8 milhões de toneladas em outras origens sul-americanas, restaria ainda uma necessidade de cerca de 20 milhões de toneladas, aponta a consultoria Safras.

Exportações dos EUA para a China

As exportações semanais americanas desta semana decepcionaram o mercado.  As vendas líquidas norte-americanas de soja, referentes à temporada 2017/2018, com início em 1 de setembro, ficaram em 759 mil  toneladas na semana encerrada em 15 de março. O número foi 40% abaixo da semana anterior e 33% abaixo da média das últimas quatro semanas.

Para a temporada 2018/2019, foram mais 140 mil toneladas. Analistas esperavam entre 700 mil a 1,6 milhão toneladas, somando as duas temporadas. As informações foram divulgadas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

E o Brasil, como fica?

Segundo o analista da Safras & Mercado os chineses devem ampliar sua demanda por soja para mais de 100 milhões de toneladas nesta temporada. Na passada compraram 94 milhões de toneladas. Só por esta razão o Brasil, que exportou 54 milhões de toneladas para a China em 2017, deve mesmo ampliar suas vendas para os asiáticos.

“O Brasil está prestes a colher a maior safra de soja de sua história e precisará vender mais. Os chineses irão precisar deste grão e a boa relação entre os países trará essa oportunidade”, diz Gutierrez. “No ano passado, de janeiro a dezembro, o Brasil foi o país que mais exportou soja para a China, ultrapassando os Estados Unidos.”

Segundo ele, o mercado ainda não sabe o que vai acontecer desse embate entre Estados Unidos e China e nem se isso irá realmente afetar a soja. “Isso ainda não se confirmou, mas é uma possibilidade. E seria algo muito sério. Se não me engano a soja é um dos produtos que a China mais importa dos EUA. O Brasil pode se beneficiar disso, ainda mais com uma safra recorde, só que os produtores brasileiros precisam aproveitar”, diz o analista.

Gutierrez conta que a comercialização brasileira ainda está atrasada e que os produtores precisam negociar uma parte neste momento, aproveitando as altas nos preços. “Os produtores tem que aproveitar. R$ 80 nos portos é um valor muito bom. Se o produtor quer especular e esperar para ver se consegue mais pela soja, ele até pode fazer, mas com menos soja na mão”, afirma.

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