Entidade de Mato Grosso fala em um déficit de armazenagem no estado superior a 35 milhões de toneladas. Outros falam que silo bolsa é solução. Será?
Pedro Silvestre, de Jaciara (MT)
O clima ajudou e as safras de milho e soja foram muito produtivas. Se este fato é bom na parte agrícola, na financeira não foi tanto, já que os preços caíram muito. Diante desta realidade muitos produtores resolveram armazenar a soja para vender em um momento oportuno, entretanto com a entrada da colheita do milho tem faltado espaço para guardar tudo isso. Os agricultores agora estão diante de um dilema: construir o próprio armazém, estocar em silobag e correr o risco de serem roubados, ou deixar a produção a céu aberto com risco de estragar.
Com uma produção estimada de 31,3 milhões de toneladas de soja, sendo que 31% disso, ou seja, 9,7 milhões de toneladas ainda estão com os produtores, a situação já estaria complicada em relação à armazenagem. Juntando a isso outros 28 milhões de toneladas de milho, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a coisa fica realmente preocupante em relação a onde guardar os grãos.
O produtor rural Giovani Fritsch, de Jaciara, em Mato Grosso, tem armazém em sua propriedade, mas a capacidade estática é de 50% de todo os grãos que ele produz. Como a soja já está guardada, o milho que está sendo colhido provavelmente acabará ficando no relento. “O negócio é preocupante, conseguimos vender 40% do milho para retirada em julho. A partir daí o vai ter milho a céu aberto. A possibilidade é grande, vamos tentar fazer com que isso não aconteça, porque isso é um problema”, conta ele.
A situação de Fritsch não é algo exclusivo, garante o presidente do Sindicato Rural de Jaciara, Ereno Giacomelli, reiterando que cerca de 40% de toda a soja colhida da safra 2016/2017 ainda está estocada e não há espaço para o milho. “Desse milho que está chegando, certamente, parte ficará a céu aberto, porque terá espaço para colocar tudo isso”, diz Giacomelli. “O problema é que está chovendo mais, coisa que nunca se viu aqui no Mato Grosso nestes meses. E as previsões dizem que as chuvas continuarão. Imagine deixar o milho amontoado fora do barracão, será um grande risco e trará prejuízo a todos.”
Apesar do aumento na procura por armazéns e do déficit de armazenagem no estado, superando os 35 milhões de toneladas, os preços médios pagos para estocar não estão mais altos. Segundo dados do Imea, estão estáveis se comparados com o ano passado.
A compra do silo bolsa é uma possibilidade, mas esbarra no custo do material, que aliado a preços tão baixos oferecidos pelo grão, pode comprometer o lucro. “Uma armazenagem em silo bag vai custar mais ou menos entre 7% a 10% do valor do produto, ainda mais que ele está com baixo valor esse ano. Assim a margem já começa a diminuir e complica tudo”, explica o produtor.
Mesmo com toda a dificuldade, o produtor Fritsch conseguiu vender um pouco da soja que estava estocada e acompanhou de perto o carregamento das 100 mil toneladas que negociou. Mas, ele não está feliz com o valor obtido, não. “Minhas primeiras vendas conseguimos algo em torno de R$ 68 e até de R$ 72 por saca. Há dois dias, quando vendemos conseguimos fazer uma venda a R$ 59 e hoje está a R$ 57,50 e não tem perspectiva nenhuma de subir”, comenta ele.
Para o economista Alexandre Mendonça de Barros o Silo Bolsa será mais do que necessário. Caso contrário, o prejuízo de se estocar os grãos a céu aberto será grande. “De repente veio uma safra e uma safrinha gigantes e a solução vai ser o silo bolsa, que vai comprometer a rentabilidade sim, ou seja, esse é outro desafio que os produtores terão que contornar”, diz o especialista.
Vale ressaltar, no entanto, que além do risco financeiro, há também a possibilidade destes grãos serem furtados nos Silos Bolsa, como aconteceu com um produtor de Goiás. Na ocasião, os ladrões rasgaram a lona e com um balde encheram um caminhão com 20 toneladas de soja.
Reveja essa história:
Produtor não consegue vender a soja e ainda tem silo roubado
Crédito para armazenagem
Para tentar amenizar o problema, o Governo Federal diz ter liberado recursos nas linhas de crédito para o programa de construção de armazéns, o PCA, no novo plano safra. Mas, a realidade é bem diferente, pois os agricultores reclamam que nunca conseguem acessar esses financiamentos.
“Olha pelo que a gente acompanha, desde a safra passada, ninguém pegou esse investimento para armazenagem anunciado. Parte desta verba que o governo diz que tinha ele não liberou praticamente nada. Sem falar na burocracia do próprio banco”, conta o presidente do Sindicato Rural de Jaciara.
O produtor Fritsch confirmou que a burocracia é a principal razão pelo qual os produtores não conseguem acessar o crédito. “É difícil conseguir esse dinheiro ai. O ministro fala que vai sair, que tem tanto de dinheiro para fazer armazéns. Mas, pouca coisa chega na mão do agricultor, parece que já faz um negócio para dificultar mesmo”, explica ele.