Não é só o preço que limita a venda antecipada de soja

Claro que as cotações influenciam a decisão de vender ou não a oleaginosa, mas na Bahia, outro fator tem contribuído para ampliar as dúvidas do produtor

A comercialização de soja segue em ritmo lento em todo o país. Na maioria dos casos este retardo se deve aos baixos preços praticados no mercado. Entretanto, na Bahia a situação vai além da relação comercial e o que mais influencia nesta decisão, é o clima.

“Gato escaldado tem medo de água fria”, o ditado popular resume bem a situação vivida pelo produtor baiano. Em resumo ele significa que quando um indivíduo faz algo e sofre com isso, jamais correrá este risco novamente. Nas últimas três safras os sojicultores da região enfrentaram sérios problemas com o clima, com destaque à última, 2015/2016, no qual a expectativa inicial era colher 4,5 milhões de toneladas, mas no final do ano as prolongadas estiagens encolheram a produção em 28%, para 3,2 milhões de toneladas. O resultado? Produtores sem soja para entregar e cumprir os contratos firmados antecipadamente, endividamentos e postergação de entregas do grão.

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Diante disso tudo, os produtores ficaram de olho nos céus e na meteorologia, tentando entender como seria o comportamento do clima. “O clima está muito diferente do ano passado”, resumiu a conversa o agricultor de Luis Eduardo Guimarães (BA), Dércio Bosa. Para se ter uma ideia, em um dia nublado, a temperatura média foi de 30°C e a meteorologia garantia que a chuva iria cair, mas isso não aconteceu. Aliás, esta tem sido a tônica da temporada, irregularidade de chuvas. “A chuva tem que vir né. Precisamos de pelo menos um volume de 20 milímetros a cada oito dias, para dar continuidade na soja, no crescimento, na florada”, conta Dércio.

Segundo o filho e sucessor do agricultor, Franco Bosa, na região da família, a situação do clima está melhor do que nos últimos anos, mas não é a situação normal ainda, que são chuvas mais generalizadas em novembro e dezembro. “Não notamos os efeitos do La Niña ainda. Aqui na Bahia, nos anos bons, temos chuvas uma vez por semana, pelo menos e esse isso não está acontecendo”, disse Franco. Ainda assim, a soja da família Bosa tem se desenvolvido bem e a expectativa de é de colher em média 60 sacas por hectare, bem mais alto que as 38 sacas da temporada passada.

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Mas como expectativa não enche sacas, a família Bosa preferiu não comercializar grandes volumes antecipadamente, antes de ter certeza que a sua safra renderá bem. “Não podemos contar com o que ainda não aconteceu. Vamos esperar para negociar mais alguma coisa”, explica Franco, que negociou um volume 15% menor do que na mesma época do ano passado. “Uma coisa é ter a tua rentabilidade garantida. Outra é arriscar e ficar com dívida para pagar.”

O caso da família Bosa não é isolado e os números do estado mostram isso. Segundo o levantamento da consultoria Safras & Mercado, até dezembro, o volume de comercialização antecipada da Bahia é de 35% das 4,5 milhões de toneladas previstas para serem colhidas nesta safra. No mesmo período do ano passado o volume total superava a casa de 55%.

O diretor do Sindicato Rural de Luis Eduardo Magalhães, Luiz Pradella concorda que o momento pede cautela, apesar da reação dos preços nos últimos dias. “No ano passado, teve gente que vendeu e não conseguiu cumprir os contratos, porque não colheu o suficiente”, relembra. “É uma dificuldade quando não se tem o produto. Por isso o produtor está um pouco mais conservador nesta safra.”

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