Vale a pena comprar insumos mesmo com preço recorde

Neste ano, os custos dos insumos atingiram o maior patamar da história, entretanto produtores de soja compensaram parte do revés com venda antecipada da safra 2016/2017

Daniel Popov, de São Paulo

O maior estado produtor de soja do país, Mato Grosso, está pagando mais caro pelos insumos agrícolas da safra 2016/2017. Os custos são os mais altos já registrados na história, chegando a R$ 1.898 por hectare, alta de 8% ante a safra anterior. Apesar disso, a cotação da saca de soja está 23% mais valorizada, o que deve equilibrar, em parte, a conta final do produtor.

Além da alta do dólar, o grande culpado pelo encarecimento dos custos com insumos são os defensivos agrícolas, que ficaram 11% mais caros quando comparados a 2015. Este importante item passou de R$ 834,7 por hectare, no ano passado, para pouco mais de R$ 926 este ano. No mesmo período, os fertilizantes encareceram quase 5% e as sementes 8%. “No ano passado, os defensivos haviam encarecido muito, algo em torno de 30%, contra 12% dos fertilizantes. Este ano voltaram a subir mais que os outros itens, contribuindo mais uma vez para a alta dos custos totais”, relembra Ângelo Luís Ozelame, gestor de análise de mercado do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea)

Segundo Ozelame, o dólar foi outro fator importante para justificar tamanha alta. Para se ter uma ideia, de março a junho do ano passado, a moeda americana estava cotada em média a R$ 3,08, já este ano, no mesmo período a média superava a casa dos R$ 3,55. “Isso poderia ser um grande problema, não fosse a alta na cotação da soja, que em parte compensou a alta nos custos”, conta o gestor do Imea.

Ao que parece, os produtores estão atentos às movimentações do mercado e correram para garantir os insumos desta safra 2016/2017. De março a junho os sojicultores realizaram a compra de 84% dos fertilizantes, sementes e defensivos para o plantio, uma evolução de 17% ante o mesmo montante comercializado em 2015. “Nós recomendamos aos produtores que ainda não compraram todos os insumos para esta safra, que aproveitem o momento atual, tentando assim garantir uma margem de lucro interessante”, sugere Ozelame.

Enquanto os insumos encareceram 8% nesta safra, os preços médios da comercialização da saca de soja estão 23,8% mais altos. De março a junho deste ano, a saca de soja foi comercializada no porto de Paranaguá a R$ 84, enquanto no mesmo período do ano passado o valor não ultrapassava a casa dos R$ 67 na média. “Do jeito que está, compensa para o produtor antecipar as compras de insumos e a vender de parte do que ainda irá plantar. Com isso ele conseguirá resguardar parte da sua margem de lucro”, conta Rafael Ribeiro, analista da Scot Consultoria.

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Segundo ele, de março a junho deste ano as vendas antecipadas da atual safra de soja em Mato Grosso chegaram a impressionantes 25%, no mesmo intervalo do ano passado as vendas somavam apenas 7,3%. “O produtor está certo em antecipar as vendas agora e garantir um bom valor pela soja. A margem de lucro será apertada nesta safra , por isso é interessante ficar atento ao mercado”, afirma o analista.

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