Estiagem despenca a produtividade de soja em Mato Grosso

Período seco casou com a fase de desenvolvimento, floração e enchimento de grãos de muitas lavouras, o que resultou no baixo desenvolvimento da soja

Um relatório desenvolvido por pesquisadores da Embrapa, atendendo à solicitação da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), aponta as condições climáticas adversas como o principal responsável pelo baixo rendimento de lavouras de soja em algumas regiões de Mato Grosso.

O trabalho indica que a maior parte dos problemas observados pelos produtores no campo são decorrentes da falta de água e das temperaturas médias elevadas nos meses de setembro a dezembro de 2015 e em fevereiro deste ano.

De acordo com os pesquisadores, essas condições coincidiram com a fase de desenvolvimento vegetativo e com a época de floração e enchimento de grãos de muitas lavouras, o que resultou no baixo desenvolvimento e abortamento de flores, e na formação de vagens vazias ou chochas.

O relatório da Embrapa aponta que as temperaturas máximas médias em 2015 em Sinop (MT) ficaram em 2,5ºC, 3,6ºC e 2,9ºC acima dos valores médios do ano de 2013 nos meses de outubro, novembro e dezembro, respectivamente. Além disso, a precipitação registrada nesses meses na estação meteorológica da Embrapa Agrossilvipastoril foi 32% menor do que o registrado em 2013. Em fevereiro, quando algumas lavouras ainda estavam em fase de enchimento de grãos, o volume de chuva foi de apenas 15% do registrado em fevereiro de 2014 e de 18% do registrado no mesmo mês em 2015.

Doenças

Segundo o relatório, algumas plantas apresentavam sintomas de doenças como a mela seca e principalmente a macrophomina (ou podridão negra das raízes). De acordo com a pesquisadora Dulândula Wruck, as doenças não foram responsáveis pela perda da produtividade e sim consequência de outros problemas, como a falta de água e o impedimento químico e físico nas camadas superficiais do solo. Esses fatores fizeram com que as raízes não se aprofundassem e comprometessem o ciclo da cultura.

– A alta temperatura mais o déficit hídrico fez com que não houvesse a polinização. Mas mesmo assim ocorreu a formação de vagens, fazendo com que os produtores acreditassem que a produção seria boa. Na época da colheita é que o pessoal começou a ver que o grão não encheu – relata Dulândula Wruck.

Nos casos com ocorrência macrophomina, a pesquisadora da área de fitopatologia explica que o fungo causador da doença invadiu raízes periféricas que já estavam debilitadas ou mortas devido à falta de água e à dificuldade em descer no perfil do solo. Em condições climáticas normais, este fungo atua como decompositor de tecidos mortos. Devido à falta de chuva, eles passaram a invadir as raízes das plantas de soja.

Entretanto, a pesquisadora ressalta que assim como a mela seca, a macrophomina não foi responsável pela perda de produtividade.

– As doenças são consequência de outros fatores. Se eu tenho um solo descompactado e tenho nutrientes abaixo de 10 cm, a raiz vai descer. Numa situação de veranico essa planta conseguiria suportar melhor do que aquela que só está com a raiz superficial – explica a pesquisadora.

Impedimento no solo

Com o veranico desta safra, foi a primeira vez que os pesquisadores observaram danos às lavouras causados indiretamente pelo impedimento físico e químico do solo na região médio norte de Mato Grosso. De acordo com o Sílvio Spera, da Embrapa Agrossilvipastoril, é preciso fazer mais pesquisas para saber se a escassez de chuva pode vir a ser recorrente de agora em diante.

De acordo com o estudo, o impedimento físico ocorre devido à compactação e adensamento do solo resultante da não implementação dos preceitos básicos do sistema plantio direto. Já a restrição química se deve à acidez sub-superficial causada pela correção e adubação apenas na superfície.

Sílvio explica que soluções para problemas decorrentes da pequena espessura da camada cultivada do solo já existem. Ele aponta a escarificação e a utilização de gesso e calagem como forma de reduzir a acidez em camadas mais profundas do solo. Entretanto, é preciso verificar a viabilidade dessas operações, uma vez que ainda não se sabe se o problema dos veranicos será recorrente nos próximos anos.

De acordo com o pesquisador, em curto prazo, uma solução mais viável e barata para o produtor é a utilização de braquiária consorciada com milho.

– Como a braquiária tem um sistema radicular muito profundo e muito agressivo, ela vai facilitar a estruturação do solo nas camadas. Essa é a situação mais barata – afirma.

Com informações da Embrapa Agrossilvipastoril

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