Máquinas que serviriam para manutenção provisória da MT-130, continuam em atividade, mesmo velhas e remendadas. Enquanto isso ninguém sabe onde foram parar R$ 9 milhões do Fethab
Pedro Silvestre, de Paranatinga (MT)
Os atoleiros da estrada MT-130 chamaram a atenção na última segunda-feira (dia 25), mostrando inclusive um operador de máquinas agrícolas retirando quase 70 caminhões da lama e um produtor que teve que paralisar a colheita por 10 dias por não conseguir trafegar. Só que os problemas vão além das promessas de pavimentação não realizadas e da falta de condições atuais de trafegabilidade, já que os produtores do estado são obrigados a pagar um Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab), que teoricamente seria usado exclusivamente para garantir boas condições nas estradas, mas pelo estado da estrada, não é.
A manutenção e recuperação de rodovias, como a MT-130, eram uma das prioridades da Secretaria do Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra) para esse ano de 2019. Porém, o decreto de calamidade financeira, instituído pelo governo na segunda semana de janeiro, mudou os planos e agora há um cronograma para atender, primeiramente, as regiões em situação emergencial.
Enquanto o governo não investe na rodovia, a associação responsável pela manutenção da MT-130 tem dificuldades para realizar adequações nos 258 quilômetros sem asfalto. Dos oito caminhões, apenas cinco estão em uso. Das duas escavadeiras, apenas uma está em operação. O mesmo acontece com as duas patrolas, só uma funciona e ajuda a tirar o barro da estrada.
“A gestão anterior também teve dificuldades de manter em pé esses maquinários, devido a falta de recursos do estado. A despesa da manutenção da estrada é muito grande. Temos que tirar a peça de uma máquina para fazer a outra rodar, até chegar o tempo que vai virar tudo sucata. Não conseguimos trazer um mecânico especializado porque o valor de uma mão de obra é cara”, conta o presidente da associação, André Kremer De Lemos.
A associação foi criada há 16 anos, em uma parceria com o governo de Mato Grosso, para dar suporte e realizar a manutenção emergencial da MT-130. Claro, com recursos repassados pelo estado. A expectativa era de que ela não existiria por tanto tempo, só enquanto durasse a pavimentação, mas isso não aconteceu e a associação segue tentando ajudar.
“Todos os governos estaduais que passaram até agora prometeram que terminariam a estrada. Fizeram até eventos de inauguração de obra, mas nenhum metro foi feito. Os 42 km de Paranatinga até Sete Placas, que já tinha até licitação, e sofre risco de ser cancelada. O produtor está cansado de promessa, porque todos prometeram fazer essa estrada e até agora nada”, afirma Lemos.
Produtores cobram dinheiro do Fethab
Os sojicultores do município querem saber onde estão os recursos do Fethab, que deveriam ser usados para o asfaltamento da rodovia.
“Não dessa MT, que está uma calamidade, mas cadê o valor que eles arrecadam? Eles pegam o dinheiro arrecadado e não devolvem. Alguém deveria investigar isso, alguma coisa para saber onde foi parar esse dinheiro, porque nas estradas não está sendo aplicado”, comenta o produtor Robson Webber.
O produtor teve que paralisar a colheita da soja por 10 dias, já que os caminhões que levariam o grão para o armazém não trafegavam. Confira a história completa!
Transportadoras não operam mais na rodovia
O dono de uma transportadora de Paranatinga, frustrado com os prejuízos, descaso e tantas promessas, decidiu mudar a estratégia e colocou os 30 caminhões que faziam rota, em outras estradas.
“Mais nenhum de nossos caminhões está trafegando na MT-130. Trabalhamos aqui há uns 8 anos e como sabemos das condições da rodovia, que nesse período chuvoso se agrava, resolvemos tirar daqui. Não trafegamos mais na MT-130, porque era só oficina , feixe de molas, caminhão quebrado é muito transtorno e prejuízo”, relembra Clayton Marcelo Dias.
Segundo Lemos, o município é um dos que mais arrecadam o Fethab, ainda mais com o aumento das produções de soja, milho e boi. E os produtores são obrigados a ver, nos últimos 16 anos, máquinas que deveriam fazer um trabalho provisório perdurarem remendadas por todo esse tempo. Mas uma coisa ainda é original nas máquinas: um adesivo.
“Vemos esse adesivo do Fethab grudado sabendo que esse fundo nunca nos ajudou. Sempre foi piada, desde o primeiro ano. Nos últimos anos a arrecadação aumentou muito aumentou, virou um peso. Nenhum produtor seria contra pagar fethab, se ele fosse usado para o fim que foi definido”, ressalta o presidente da Associação MT-130.
Prefeitura anterior não repassou Fethab
O prefeito de Paranatinga, Josimar Marques Barbosa, afirma que na gestão anterior a prefeitura recebeu cerca de R$ 9 milhões com o Fethab e que nada foi repassado na transição para sua gestão.
“Não vimos nenhum centavo desse dinheiro. Pelo que notamos não foi comprado nenhum palito de dente para ajudar nas estradas. Só Deus sabe para onde foi. Comecei a economizar, a partir de janeiro, para ajudar na estrada e arrecadados R$ 5 milhões até agora. Usei R$ 3 milhões para comprar maquinários e o resto sendo usado com óleo diesel, ajudando a associação”, reafirma.
O presidente da Associação MT-130 disse que o governo do estado sugeriu enviar alguns repasses para ajudar na manutenção, mas os valores sugeridos seriam tão pequenos que não seriam suficientes nem para pagar os funcionários. “Entendemos a dificuldade do governo do estado nessa questão, mas oferecer R$ 60 mil por mês, que não paga nem nossos funcionários, ainda muito menos a manutenção da máquinas, é um absurdo”, reitera Lemos ao dizer que e chamou o governo para uma nova conversa , além de uma visita a MT-130, para ver as condições e fazer um novo orçamento, até para a associação continuar as atividades.