Agricultores do maior estado produtor do país estão atentos aos custos de produção e devem diminuir investimento em tecnologia para aumentar o cultivo da soja
Manaíra Lacerda | Mato Grosso e Brasília (DF)
O produtor soja pode terá que ser cauteloso para não trabalhar no vermelho nesta safra. Mesmo com o cenário de pessimismo, a perspectiva em Mato Grosso, maior produtor nacional do grão, é de crescimento da área plantada, estima o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
– O produtor só deixa de plantar se ele não conseguir viabilizar todos os insumos. Mas eu acredito que este ano vai acontecer o plantio na nossa região e em outras também. Usando somente defensivo e semente. Acredito que muitos produtores não vão utilizar fertilizantes, por várias razões – explica o presidente do Sindicato Rural de Sinop (MT), Antônio Galvan.
Para conseguir manter o avanço de área, aliado ao controle dos custos de produção, a estratégia adotada pelos sojicultores é reduzir os investimentos em tecnologia. A alta no preço dos insumos, especialmente os cotados em dólar, é um dos motivos para o produtor diminuir o uso de tecnologia.
– A cautela continua sendo a palavra-chave. Os preços internacionais continuam muito baixos. Houve uma pressão ainda maior sobre os preços com o anúncio do relatório do USDA e a situação cambial também. Se esse câmbio ceder no momento da colheita, com certeza a conta fica muito pior – avalia o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Ricardo Tomczyk.
O mercado de soja piorou após o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgar que a próxima safra de soja no país será maior que o estimado pelo mercado, com estoques mais altos. A notícia teve reflexo no Brasil. O produtor de Mato Grosso, antes do anuncio, estava negociando a saca de soja por R$ 60,00. Após o anúncio, caiu para R$ 58,00/sc e, com a escalada do dólar, voltou a subir para R$ 63,00/sc. Segundo o gestor técnico do Imea Ângelo Ozelame, os preços atuais remuneram bem na comparação com o ciclo anterior.
Quando a gente faz uma análise maior das safras, a gente percebe que o dólar mais elevado acabou auxiliando neste preço. Claro que o dólar tem dois lados, onde está elevando os custos, mas quando fazemos a comparação de preços do ano passado, que estava sendo oferecido para os produtores, a saca estava em torno de R$ 40,00/sc – comenta Ozelame.
No vermelho
O produtor Adelmo Zuanazzi produz soja há mais de 27 anos. Na safra 2015/2016 o risco de terminar no vermelho é real e muito algo.
– A situação já está complicada e não é de hoje. Nos últimos três anos, a situação vem agravando, as margens não estão achatando. Para a próxima safra, a tendência é que piore um pouco mais, em função das notícias de mercado. A formatação hoje dos custos e a conclusão das margens dão conta de que o produtor vai trabalhar no vermelho – projeta.
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