Relação de troca pelo insumo cresceu muito nos últimos 12 meses, mas especialistas orientam agricultor a garantir o adubo antes que os gastos com logística subam
Suelen Farias | São Paulo (SP)
Em junho de 2014, o produtor de Mato Grosso precisava de 19 sacas para comprar uma tonelada de fertilizante. No mesmo mês de 2015, a relação de troca está bem diferente, já que a oleaginosa desvalorizou 42% no período e o dólar já passa dos R$ 3,00. Para conseguir adquirir a mesma quantidade de adubo, o produtor precisa de 30 sacas.
A relação de troca mais alta e a demora na liberação do pré-custeio fizeram o produtor segurar as compras do insumo para esta safra.
– A grande questão quando falamos em relação de troca é porque os insumos também subiram. Principalmente os insumos com base no dólar. Isso traz para o produtor uma sinuca. Ele tem receita melhor nas commodities agrícolas, nos produtos que são dolarizados, porém os custos sobem. O produtor fica com uma grande interrogação, se vai melhorar ou piorar. Também houve uma conjuntura muito complicada, deixando o produtor inseguro com relação aos investimentos – explica o analista de mercado Flávio França Júnior.
• Adubação na quantidade certa aumenta a produtividade
Mas, apesar da alta no valor do fertilizante, a recomendação de França Júnior é que o agricultor não deixe para comprar na última hora. O produtor que atrasar muito essa aquisição pode desembolsar mais conseguir o adubo em tempo de realizar de iniciar o plantio.
– É preocupante, no sentido dos atrasos [na entrega]. Nós vamos ter problemas de logística. Para esse produtor chegar até o interior, a logística de desembarques e de frete certamente o produtor vai pagar mais caro. Ele pega um mercado mais caro e possivelmente com fretes para cima, em função do nervosismo de logística.
Outra orientação é não reduzir a tecnologia na lavoura, mesmo que o produtor decida não abrir áreas nesta safra.
– É um ano para dar uma seguradinha [sic], mas a gente tem pedido para o produtor e insistindo para não reduzir a tecnologia. Ano como este, em que apertou o dinheiro, então reduz a área. É melhor reduzir a área ou não aumentar, mas aonde plantar, que plante bem. É decisivo para a renda do produtor em 2016, para que ele tenha uma boa produtividade – completa o analista.
Consumo deve aumentar
Diante das dificuldades de câmbio e crédito, o produtor comprou menos insumos em 2015. Nos primeiros sete meses do ano, as entregas de fertilizantes para o consumidor final caíram 7,7% em relação ao mesmo período de 2014, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).
– Aparentemente deve haver uma recuperação neste período. Passamos dois meses com os preços das commodities muito baixos, e o produtor está analisando mais o mercado de como ele vai fazer agora para frente, como ele fazer para entrar no mercado, porque melhorou a relação de troca de dois meses para cá – comente o diretor-executivo da Associação do Misturadores de Adubos (AMA), Carlos Florence.
Com o início do plantio da soja em meados de setembro, a expectativa é que as vendas de fertilizantes se recuperem, com pelo menos 30 milhões de toneladas negociadas, de acordo com estimativa da consultoria GO Associados.
– Devemos fechar 2015 com vendas no mercado de fertilizantes 5% menor do que em 2014. É uma queda relevante para o mercado de fertilizantes, que cresceu algo em torno de 4,5% nos últimos 10 anos. Então é um ano em que o mercado vai passar por um pequeno ajuste por causa dessa piora no cenário agrícola para 2016 – projeta o diretor de Pesquisa Econômica da consultoria, Fábio Silveira.
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