O feijão que está sendo colhido no laboratório do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), em São Paulo, não pode ir para a panela ainda. É material de experiência. Apenas em uma área, em torno de 800 metros quadrados, estão sendo cultivadas mais de 500 linhagens de feijão. É o cruzamento de variedades diferentes que no futuro podem dar origem a uma nova, que aí sim poderá ir pra mesa do consumidor.
Para uma nova cultivar chegar ao mercado, a semente passa por um processo que leva até doze anos. No Brasil, existem quase dez instituições que fazem este trabalho. O Instituto Agronômico de Campinas já desenvolveu mais de 40 cultivares desde a década de 30, pelo programa de melhoramento genético do feijão. Atualmente, seis cultivares que saíram daqui estão em uso, chegam aos produtores. O professor Sérgio Augusto Morais é pesquisador do IAC e coordena este trabalho.
– São basicamente três critérios para que uma semente chegue ao mercado. O primeiro que tenha alto rendimento, alta produtividade. O segundo, resistência a pragas e doenças e também tolerância a diversidades climáticas. E o terceiro que tenha alta qualidade tecnológica e nutricional no grão de feijão ? enumera Morais.
O feijão carioca, um dos mais consumidos no Brasil, foi desenvolvido pelo IAC na década de 70. A resistência a doenças como a antracnose é uma característica que os pesquisadores do IAC se orgulham de destacar neste tipo de feijão.
? Todas as cultivares que saem daqui são resistentes à antracnose. O que a gente está buscando agora é a introdução de outras doenças, como por exemplo mancha angular, fusarium, mofo branco e outras doenças que acometem o feijão ? completa o professor.
De acordo com Margarida Ito, doutora em Fitopatologia e também pesquisadora do IAC, são mais de 40 doenças. A antracnose é uma das principais, mas a doutora está envolvida agora da divulgação de um estudo que mostra a gravidade de uma outra doença: o crestamento bacteriano, que afeta folhas, caules e as vagens, além de diminuir a produção e a qualidade dos grãos de feijão. O levantamento foi feito em lavouras no Estado de SP. Foram coletadas 21 amostras, e 62% estavam contaminadas.
Doutora Margarida diz que existe o risco de a doença virar uma epidemia se não for controlada logo. O melhoramento genético é o remédio, a médio e longo prazo, mais eficiente contra isso. Porém, a responsabilidade não é apenas dos pesquisadores.
? O produtor deve dar preferência ao uso de sementes certificadas porque a maioria dos patógenos causadores de doenças são transmitidos ou transportados pela semente de feijão. Então, está aí a importância do uso de sementes isentas de patógenos ? ensina Margarida.