Produtores lutam para manter a rentabilidade da soja na região sul do RS

Alto custo para melhoria do solo e o baixo rendimento da oleaginosa até o momento ainda torna a cultura pouco viável na região que faz divisa com o Uruguai

Ricardo Cunha | Jaguarão (RS)

Passados mais dez anos da chegada da soja na parte sul do Rio Grande do Sul, os produtores permanecem na atividade e buscam eficiência para plantar a oleaginosa em uma área tradicional na pecuária de corte e na produção de arroz.

A família Tonieto foi pioneira no plantio de soja em Arroio Grande, a 343 km de Porto Alegre. Chegaram em 2004, vindos de Cacique Doble, no norte gaúcho. A primeira safra no novo endereço foi a de 2004/2005, que coincidiu com a pior seca dos últimos tempos no Rio Grande do sul.

O produtor rural Rafael Tonieto colheu oito sacas de soja por hectare naquele ciclo. Dez anos após a chegada à região, hoje a produtividade média dele é de 48 sacas por hectare. Um resultado que se deve aos investimentos feitos no campo.

– Eu acredito muito na região e é por isso que nós estamos aqui, mas existem alguns entraves. As nossas médias estão instáveis. Tem anos que se colhe muito bem. Nos últimos anos, todo mundo tem colhido muito bem. Há lavouras de alto potencial e de baixo potencial produtivo – relata Rafael.

Quem não investiu nas lavouras acabou colhendo pouco e teve que abandonar as terras.

– O produtor chega com essa expectativa de colher 60, 70 sacas por hectare. Na verdade, ele chega aqui e não consegue colher isso. A média na região fica entre 40 e 45 sacas por hectare. O custo de produção hoje no município está em 30 a 33 sacas. A margem é pequena – explica o chefe do escritório da Emater Jaguarão, Carlos Lopes Feijó.

A chegada da soja nessa região promoveu uma valorização no preço das terras. Em seis anos, o valor do hectare de R$ 5 mil para R$ 10 mil reais. Também os arrendamentos ficaram mais caros. Os primeiros que chegaram aqui pagavam quatro sacas por hectare, hoje o proprietário cobra em 10 e 12 sacas por hectare.

O agricultor Adão Custódio está há seis anos em Jaguarão, grande parte das terras dele é arrendada. Na última safra, ele colheu 40 sacas de soja por hectare em média. A possibilidade de aumento no custo do arrendamento está preocupando o produtor.

– O nosso custo de lavoura hoje para de 30 sacos. Se colher mais 10 sacas, colher 50, ainda não sobra nada para sobreviver – afirma.

Tanto Adão Custódio e quanto Rafael Tonieto sabem que a permanência deles na atividade vai depender de uma melhor eficiência na produção de soja.

– Vamos ter que produzir mais com menos, para reduzir custos e trabalhar em cima de novas variedades para fugir de alguns problemas pontuais que ocorrem aqui, como os veranicos. É uma região que as chuvas não são constantes. A gente tem que tentar fugir disso, mas com produtividade. Com investimentos em tecnologia, principalmente em tecnologia de solos – reforça Tonieto.

Soja como cultura secundária

Do outro lado da fronteira, no Uruguai, quem planta soja também enfrenta algumas dificuldades, mas serve como um bom incremento na renda.

– Ela [a soja] é pouco viável. Teve o seu boom de preços há dois anos. Voltou para a normalidade, até mais baixa. Aí se torna meio duvidoso o lucro, mas consorciando com o arroz vale a pena – comenta o produtor Fernando Rosales.

Há três anos, Rosales começou a cultivar soja na resteva do arroz, com o objetivo de limpar a lavoura. Com o uso do glifosato, combate dois problemas: arroz preto e o vermelho. O que no início era para ser uma experiência, acabou dando certo e se consolidou em 300 hectares da propriedade, inclusive ajudando a reduzir os custos da cultura.

– Uma lavoura aqui no Uruguai com todos os custos, de bombeio, água, está em torno de US$ 1.850 e você consegue baixar para US$ 1.000, não precisando mover a terra, fazendo o plantio direto – ressalta.

Por enquanto, o produtor rural não pensa em diminuir a área de arroz. Para Fernando Rosales, a soja vai continuar sendo uma cultura complementar. Além disso, diferente do Brasil, o cultivo da soja no Uruguai é acompanhado pelas autoriadas.

– Aqui eles exigem muito cuidado com o solo. Chama-se Plano de Uso do Solo, então para plantar soja, você precisa ter um projeto por cinco anos do que você vai usar e qual será a cobertura no inverno. Há muita preocupação com soja, principalmente com os riscos da monocultura – explica Rosales.

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