O agricultor Manoel Valin Duarte se arrisca todo o dia ao andar pelo acostamento da BR101 transportando cana para alimentar o gado ou então levando os animais para o campo que fica do outro lado da rodovia.
? Tem que cuidar o movimento. Às vezes, a gente espera até 15 ou 20 minutos até dar um espaço dos carros para a gente poder passar ? diz Duarte.
As dificuldades não param por ai. Para trazer até o galpão a banana que é produzida na encosta do morro, ele tem que fazer força. Manoel não é o único a se queixar dos transtornos que a duplicação na BR101 está trazendo para a atividade rural de seis municípios do litoral norte do Rio Grande do Sul.
? A dificuldade é que a gente não tem acesso para transportar o produto que é a banana. Tem que ser de carreta de boi ou micro trator ou tobata, e nós não temos acostamento, não temos rua lateral. E eu, no caso, tenho que passar pela ponta do asfalto, pelo acostamento com carro de boi arriscando até um acidente, e os carros passam menos de um metro encostado na gente. E a gente tem que fazer isso aí porque não tem opção ? explica o agricultor Pedro Silva Pereira.
Os produtores querem que seja construída em uma área paralela à BR 101, uma estrada vicinal para que possam transitar com tratores e implementos agrícolas de forma segura. Outro pedido é a construção de uma galeria por baixo da rodovia para que possam levar os animais de um lado para o outro lado da propriedade.
A reivindicação já foi levada para a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS) que agora quer saber qual o número total de produtores que estão sendo prejudicados antes de cobrar uma solução das autoridades.
? Estamos tentando uma reunião com o DNIT [Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte] para debatermos esse tema e vermos uma alternativa, até porque o projeto inicial previa passagens em alguns desses locais ? disse o vice-presidente da Fetag-RS, Sérgio de Miranda.
O Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte, responsável pela duplicação da rodovia, reconhece que alguns produtores estão sendo prejudicados, principalmente porque a obra já dura mais tempo do que o previsto inicialmente. Para o superintendente do departamento no Rio Grande do Sul, a prioridade agora é entregar a BR101 pronta até o fim do ano.
? Para este ano, o nosso orçamento e a nossa disponibilidade estão completamente comprometidos. Nós temos, depois disso, uma série de obras que foram reivindicadas pelas comunidades ao longo da rodovia como passarelas, ruas laterais, acesso e passa gados e estamos relacionando e no futuro fazer uma avaliação para ver quais serão prioridade para a atendimento ? diz o superintendente do DNIT Vladimir Roberto Casa.
Na opinião dos agricultores, se o problema não for resolvido algumas famílias vão ficar sem alternativa de trabalho.
? Já tem gente até pensando em vender a propriedade ? declara Duarte.
A construtora Queiroz Galvão, através de uma nota, informou que as obras estão rigorosamente dentro do cronograma estabelecido pelo DNIT. A empresa esclareceu também que todas as passagens de animais e retornos previstos nos projetos foram executados.