Brasil apresenta em reunião da FAO iniciativas para recuperar pastagens degradadas

Programa ABC busca recuperar 70 milhões de hectaresAs iniciativas do governo brasileiro no setor pecuário para reduzir os efeitos do chamado efeito estufa sobre a camada de ozônio ? faixa de gás responsável por evitar excesso de radiação ultravioleta sobre o planeta ? estão entre os assuntos discutidos em Buenos Aires durante encontro coordenado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Autoridades governamentais e técnicos da Argentina, do Brasil, do Chile, do Uruguai e do Paraguai também discutem a inclusão da agricultura familiar em projetos de produção de carne, além das políticas comuns ou individuais de cada país para os próximos dois anos no setor agropecuário.

O representante brasileiro no encontro é Márcio Portocarrero, secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Ele afirmou que o mundo considera os grandes países produtores de carne agentes no enfraquecimento da camada de ozônio.

? O boi é um ruminante e libera, no processo de digestão do alimento, gases que influenciam na redução dessa camada. O que tentamos provar é que a partir do manejo, da tecnologia e de cuidados específicos no setor pecuário, podemos reduzir esse efeito.

Uma das iniciativas do Brasil para contribuir com a manutenção da camada de ozônio, apresentada no encontro em Buenos Aires, é o Programa ABC, que busca recuperar 70 milhões de hectares de áreas de pastagens. O programa também intensifica o uso de tecnologia na pecuária, incentiva a produção de bioenergia e trata do fortalecimento da produção de leite.

? O programa foi lançado no plano de safra 2010/2011, colocando R$ 3 bilhões à disposição dos produtores para fazerem as mudanças necessárias em suas propriedades, de modo que eles possam assumir uma atividade sustentável.
Uma das mudanças possíveis, segundo o secretário, é a introdução nas propriedades rurais de projetos de sustentabilidade ambiental. Eles permitem, por exemplo, que numa mesma área se desenvolvam a lavoura e a pecuária, com a preservação da floresta.

? Com isso, o Brasil poderá incorporar mais 8 milhões de hectares de plantio direto aos já existentes no país. Nós temos a maior área de plantio direto em todo o mundo.

O Programa ABC também permite a fixação biológica de nitrogênio no solo para reter o carbono e, assim, recuperar áreas de pasto degradadas. Esse processo recompõe o meio ambiente das propriedades rurais, o que pode possibilitar a recuperação de 40 a 70 milhões de hectares até 2020.

? A meta que o governo brasileiro assumiu em Copenhague foi de 15 milhões de hectares de pastagens devolvidas à produção ? disse Portocarrero.

O secretário disse que existe uma tendência mundial para a substituição de uma parte da pecuária que lida com animais ruminantes por aves, por exemplo, como uma maneira de atender à demanda de uma camada da população do planeta que não deseja consumir produtos ligados a algum tipo de risco ambiental.

Ele não acredita que essa tendência na produção do setor pecuário signifique redução mundial da oferta de carne.

? O previsto é que em 2020 o mundo tenha 9 bilhões de habitantes que precisam se alimentar de alguma maneira. A carne é a proteína mais nobre que existe. O que se discute – e por isso a FAO coordena grupos de discussão mundo afora ? são as alternativas tecnológicas que possam ser adotadas de forma preventiva para manter a oferta de produtos pecuários.