Especial - Falta gente no campo até para time de futebol

O agricultor Zenildo Carminatti, de 64 anos, toca o rebanho de vacas leiteiras onde um dia foi o disputado campo do Esportivo Futebol Clube. Lazer predileto dos homens do interior, as peladas não acontecem mais na Linha Navegantes, em Nova Erechim. Faltam jogadores para formar times, onde, até 1990, disputavam-se torneios e campeonatos entre comunidades.

? Agora, com o que sobrou de gente, não dá para formar um time sequer. O campinho já virou lavoura, pastagem. Só restou a goleira para lembrar as peleias de antigamente. Não tem mais lazer. Nem bodega tem mais. A gente se diverte jogando cartas ? afirma Zenildo.

Ele e a mulher, Ida Maria Carminatti, de 64 anos, ficaram sozinhos na propriedade de 13 hectares. Com dois casais de filhos, não houve promessa que fizesse um deles permanecer lá. Para o caçula, Tiago, de 24 anos, o pai chegou a fazer três propostas. Disse que daria algumas vacas para começar, depois aumentou a oferta. Nada que persuadisse o rapaz a aceitar.

? Eu investi para ele estudar. Foi para Blumenau e não quer saber de voltar. Trabalha numa esquadria lá ? conta.

Os filhos mais velhos, Mirtes, Miriam e Ricardo, moram em centros urbanos.

? Eu achava que pelo menos um fosse ficar com a gente ? diz, triste, Ida Maria.

O casal está se desfazendo das vacas que ainda restam. O plantel de 20 animais foi vendido, as terras, arrendadas, e os dois pensam em ir para Blumenau.

? Linha Navegantes vai ficar na mão de dois ou três ­? lamenta Zenildo.

Série de reportagens O Campo Envelhece, do Diário Catarinense, conquista Prêmio Esso de Jornalismo