O projeto de lei que proíbe pulverização aérea em Mato Grosso está gerando revolta no setor produtivo, que teme prejuízos incalculáveis. O Brasil detém a segunda maior frota de aviões agrícolas do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. O estado mato-grossense lidera internamente, com 494 aeronaves e pelo menos 300 operadores privados.
O risco de extinção da atividade deixou empresários apreensivos. “Isso vai dar um prejuízo muito grande tanto para nós quanto para agricultura”, afirma Jeferson Bonmaster de Oliveira, sócio-proprietário de uma empresa aeroagrícola, em Campo Verde (MT), que emprega cerca de 15 funcionários diretos e atende uma área de 200 mil hectares por safra.
O piloto Léo Jures de Vargas receia ficar sem trabalho depois de ter investido muito dinheiro na formação. “E não sou só eu, mas todo o pessoal: ajudantes e mecânicos. Todo mundo será afetado”, lamenta.
- CNA recorre ao STF contra lei que proíbe pulverização aérea agrícola no Ceará
- A aviação agrícola e o caso da aranha surda
Oliveira destaca que a atividade é fiscalizada por órgãos federais, como o Ministério da Agricultura e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e estaduais, sendo eles a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) e do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea). “A gente procura fazer tudo corretamente”, reforça.
Inácio Modesto Filho é diretor técnico de Agricultura do Grupo Bom Futuro, que cultiva mais de 500 mil hectares no estado e tem a maior frota do país, com 12 aeronaves. Ele foi pego de surpresa pelo projeto de lei. Para o dirigente, o autor da medida não conhece o setor produtivo e vai criar uma situação insustentável para aplicação de produtos agrícolas. “Se eu tenho uma praga ou uma doença e passa uma semana de chuvas, tenho áreas para pulverizar. E o que vai acontecer quando a praga ou a doença atingir os níveis críticos pela demora da entrada? A produtividade será menor”, explica.
Acusação grave
O deputado estadual Lúdio Cabral (PT-MT), autor da proposta na Assembleia, defende que a prática de pulverização aérea é mais nociva à população rural e menos eficaz que outras formas de aplicação de defensivos.
- Parceria garante apoio para mestrados e doutorados em aviação agrícola no Sul
- Aviação agrícola cresce 3,74% e chega a 2.194 aeronaves no Brasil
“Várias pessoas têm nos mandado vídeos das rodovias, em todo o estado, presenciando aeronaves pulverizando agrotóxicos fora dos limites que são estabelecidos na nossa legislação. Denúncias de comunidades de vilas onde as escolas têm que parar o seu funcionamento em função da deriva de veneno comprometendo o ambiente de educação das crianças. Temos até denúncia de produtores de algodão que estão sofrendo com a deriva de veneno aplicado por helicóptero por aeronave em pastos no nosso estado. A própria agricultura está sendo penalizada com a aplicação aérea de agrotóxico”, diz Cabral.