A Soja Louca II vem sendo tratada como uma anomalia, mas sua causa ainda é desconhecida. Quando ocorre, a planta não amadurece e registra alto índice de abortamento de flores e vagens. Em outros anos foram registradas ocorrências no final do ciclo de desenvolvimento da soja, mas nesta safra ela surgiu mais cedo, no começo da fase vegetativa, e preocupa principalmente em áreas mais quentes, com casos no Maranhão, Tocantins, Pará e norte de Mato Grosso, o principal Estado produtor.
? Normalmente é nas folhas mais novas que ocorrem os sintomas mais fortes. Elas ficam deformadas, as flores caem, não vingam e não produzem vagens. Isso nos ajuda a entender o problema, porque aparentemente a anomalia se instala na parte mais nova da planta ? explicou Mauricio Meyer, pesquisador da Embrapa Soja, que coordena as pesquisas sobre a doença.
De acordo com Meyer, o problema da Soja Louca II vem aumentando de forma gradual e consistente desde a safra 2005/06, mas foi em 2010 que começou a ficar mais preocupante. Em parceria com outras instituições de pesquisa e cooperativas, a Embrapa montou unidades de observação e um questionário para tentar entender o momento e a situação em que a anomalia aparece, os sintomas e o histórico da área, como por exemplo, algum manejo ou procedimento que estaria favorecendo o surgimento do problema.
O pesquisador explica que as observações já realizadas indicam que a anomalia provavelmente não está ligada ao uso de herbicidas.
? O problema tem aparecido em várias formas de manejo de herbicidas. Talvez tenha alguma ligação com algum tipo de planta invasora que aparece na entressafra. Temos agora que ver como é transmitido de alguma erva daninha para a soja ? disse ele.
Apesar de não ter como comparar com danos provocados em outros anos devido à falta de informações, Meyer calcula que, nas áreas onde já ocorre a doença, houve uma redução de produtividade de 40% a 60%.
Resistência da erva daninha
No que se trata de ervas daninhas, a preocupação agora é com a solução encontrada para controlar a resistência das chamadas super ervas daninhas ao glifosato, um dos herbicidas mais importantes na agricultura.
No Brasil, já foram registradas cinco dessas plantas resistentes: o capim amargoso (digitaria insularis), o azevém, o amendoim bravo e dois tipos de buva, esses os mais preocupantes por serem um tipo de erva que está espalhada pelo Paraná e pelo Rio Grande do Sul, Estado pioneiro no uso de soja transgênica tolerante ao glifosato.
Para controlar a resistência dessas plantas ao glifosato, a solução encontrada foi utilizar outros produtos parceiros, como herbicidas graminicidas, inibidores da ACCase ou da ALS, dependendo da planta. E se a preocupação antes era com o uso errado do glifosato, agora é com a utilização indiscriminada desses produtos, já que as ervas daninhas também podem ampliar a resistência a eles.
? Existe um risco iminente de essas ervas que já têm resistência ao glifosato criarem resistência também a esses produtos que estão sendo a solução. Se não controlarmos muito bem o uso desses produtos, eles serão perdidos ? explicou Dionisio Gazzieiro, pesquisador da Embrapa Soja, a estatal brasileira de pesquisa agrícola.
Segundo ele, as perdas de produtividade nas lavouras de soja no caso da infestação pela buva chegam a até 50%. A solução para a resistência em ambos os casos passa pelo manejo adequado das lavouras, por meio da rotação de culturas e do próprio herbicida, tomando cuidado para que as indicações de uso sejam seguidas, como o momento ideal de aplicação e a quantidade.