Geógrafo critica projeto de transposição do rio São Francisco

Para Aziz Ab'Sáber, presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, falta estudo sobre áreas que irão fornecer e receber águaO professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) Aziz Nacib Ab'Sáber criticou o projeto de transposição do rio São Francisco durante palestra na 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Campinas (SP). Um dos auditórios de maior capacidade na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) ficou lotado na palestra do geógrafo, que é também presidente de honra da SBPC e autor de diversas teorias e projet

O polêmico projeto consiste na transferência de águas do rio para abastecer rios e açudes da região Nordeste. As críticas de Ab’Sáber foram em relação à falta de planejamento e estudos climáticos sobre as áreas que irão fornecer e receber águas.

? O projeto diz que será preciso tirar 1% das águas do rio para transpor por cima da chapada do Araripe e descer para o Ceará. Quem chegou a essa conclusão deveria conhecer melhor a climatologia dinâmica dessas regiões, que faz com que as águas do rio fiquem mais altas ou mais baixas, dependendo da época do ano ? disse.

Conforme o professor, essa porcentagem “pode significar uma réstia de água em um momento ou, durante o período de chuvas nos sertões do Ceará e do Rio Grande do Norte, por exemplo, nem seria preciso enviar água do São Francisco”.

A poluição das águas do rio também foi abordada pelo geógrafo.

? Ninguém me convence de que a transposição fornecerá água potável para todos os que teoricamente se beneficiarão com o projeto. As pessoas que afirmam isso não entendem bem de planejamento. A justificativa é muito simples: as águas do São Francisco estão poluídas ? observou ele.

De acordo com Ab’Sáber, as águas vêm desde a serra da Canastra e passam por muitos rios em áreas onde a cultura de soja está se estendendo com a utilização de grande quantidade de defensivos agrícolas. Ele lembrou que o São Francisco recebe ainda a poluição que vem de rios das cidades de São Paulo e Belo Horizonte.

Ab’Sáber disse não ser contra o projeto de transposição, desde que seus gestores sejam corretos e não se envolvam com corrupção.

? Uma das grandes coisas que aprendi em minha vida é a necessidade de ouvir o povo antes de qualquer tipo de planejamento, ainda mais em um empreendimento desse porte. Com o planejamento que foi feito, pouca gente da base da sociedade brasileira terá vantagens com esse projeto ? afirmou.