Pesquisa com transgenia e biologia sintética promete revolucionar o campo e a indústria

No Brasil já existem estudos com a cana-de-açúcar, café, soja e arroz. São pesquisas desenvolvidas em instituições como a Embrapa, Institutos agronômicos e UniversidadesDepois da produção de alimentos geneticamente modificados para reduzir custos na lavoura, surgiram os produtos mais nutritivos. Agora já se fala em sementes e mudas resistentes à seca. É a terceira geração dos transgênicos. Mas os pesquisadores estudam já uma nova tecnologia, que deve revolucionar o campo e a indústria num futuro bem próximo. 

O agrônomo Odnei Fernandes encontra, em uma plantação, uma das pragas mais temidas no milho: a lagarta do cartucho. A praga ataca as folhas e compromete a produtividade da planta. Na espiga comum, muitos estragos. As boas são de milho transgênico. A espiga ruim pertence a uma plantação que ainda tira o sono do Seu Carlos, produtor em Casa Branca, um município a 260 quilômetros de São Paulo, mas que ele precisa manter como área de refúgio, exigência pra quem usa transgênicos. 

? Nós precisamos então ter 5% de área de refúgio, ou seja 5% da área plantada com milho convencional ? diz o agrônomo Odnei Fernandes, gerente de Unidade da Monsanto.

O milho convencional ocupa uma área de sete hectares na plantação do seu Carlos. O transgênico, mais de 80. As sementes usadas nesta plantação tem a chamada Tecnologia PRO, desenvolvida pela empresa que Odnei trabalha, uma das lideres no mercado de herbicidas e sementes no mundo. Os técnicos dizem que o novo milho pode ser até 20% mais produtivo do que o convencional,  e é um avanço no controle de pragas. Por isso que na lavoura com essa tecnologia, dificilmente Odnei vai encontrar uma lagarta.

? O que é previsto, previsível visto que nesta planta existe a expressão de duas proteínas BT, o que confere proteção, controle de lagartas, no caso a lagarta do cartucho. 

? A diferença é a praga, a lagarta. Você não vê nada. Limpinha. Você vem aqui olha e vai embora dormir ? afirma o produtor José Carlos Lecchi.

Sem pragas no milho, Carlos toca a lavoura mais tranqüilo. Mas a  tecnologia dos transgênicos, já é vista pela pesquisa como ultrapassada, acredite. A afirmação é da especialista Alda Lerayer, doutora em genética  e melhoramento de plantas. A novidade tem outro, nome diz ela: biologia sintética.

? Vai mudar o nome, não deixa de ser a modificação do DNA, ou o DNA recombinante , como a gente chama, sendo com muito mais conhecimento, tecnologia, onde você pode mudar toda uma via metabólica de um organismo e colocar outro seu. Então não vai ser chamado mais de transgênico. Acho que transgênico já é realmente uma discussão ultrapassada.

A doutora Alda é uma das diretoras do Conselho de Informações sobre Biotecnologia, que tem sede em SP. A instituição acompanha o desenvolvimento de pesquisas no mundo inteiro e ajuda a divulgar os avanços na área. Daqui a dez anos, diz ela,  teremos no mercado uma quantidade muito maior de alimentos, de plantas produzidas por biologia sintética, ou seja, sem a necessidade de retirar um gene de um organismo e passar pra outro, que é a essência da transgenia.

Mas enquanto a biologia sintética não se populariza, se estuda também em laboratórios a evolução da segunda geração dos transgênicos,  que prevê alimentos mais nutritivos e a da terceira geração, a de plantas resistentes a seca. 

? A terceira a gente chama aquela geração de plantas que vão ser melhoradas para estresses abióticos. Plantas que podem crescer em solos salinos, quer dizer, já se preparando para possíveis mudanças climáticas globais, que vão fazer com que você tenha plantas resistentes a determinadas condições de estresse ambiental ? diz Alda.

No Brasil já existem estudos nesta linha com a  cana-de-açúcar, café, soja e arroz. São pesquisas desenvolvidas em instituições como a Embrapa, Institutos agronômicos e Universidades. Assim como a biologia sintética, também esta tecnologia deve levar ainda uns dez anos  pra chegar no campo. Mas algumas empresas multinacionais já tem culturas em estados bem avançados. O milho é o principal delas.

Odnei, que é especialista em biotecnologia, explica que a tolerância à seca não significa que a planta não vá precisar de água. Mas em casos de falta,  ela terá resistência e o desenvolvimento na lavoura não vai ser comprometido. Na empresa em que ele trabalha os estudos estão sendo feitos também com algodão e soja.

? Essas tecnologias estão em fase de laboratório, em casa de vegetação e campo nos EUA. E nós precisamos trazer para o Brasil num futuro próximo quem sabe nos próximos anos e começar os estudos aqui pra entender o desenvolvimento e como é o comportamento destas tecnologias no Brasil, pra então a gente lançar no mercado local. Provavelmente dentro de dez anos é possível que isto ocorra ? completa o especialista.