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Parlamentares defendem mais recursos para a pesquisa agropecuária

Para eles, a defesa do orçamento deve sair do discurso e partir para a prática

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Foto: Embrapa

“A agropecuária há muitos anos desempenha papel de grande relevância para o crescimento econômico brasileiro, possibilitando ao país ser um dos maiores exportadores mundiais de produtos agrícolas. A pesquisa tecnológica tem papel fundamental nesse modelo”. A afirmação é do presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Alceu Moreira (MDB-RS), que junto com vários outros parlamentares, defendeu nesta quinta, 26, a recomposição do orçamento da Embrapa.

Ele presidiu a audiência pública “Agricultura movida a ciência e as contribuições da pesquisa agropecuária para o desenvolvimento da agricultura e para o crescimento econômico brasileiro”, realizada na Câmara dos Deputados. Para Alceu Moreira, a recomposição orçamentária da Embrapa representa o reconhecimento do parlamento de que a pesquisa é o “pé” do processo do desenvolvimento. 

Na opinião do parlamentar, trabalhar a pesquisa como um tema secundário é desconsiderar a ciência como propulsora da economia do Brasil. “Quem é capaz de promover o desenvolvimento a partir do conhecimento é a Embrapa”, afirmou.

O ponto comum nas falas dos parlamentares presentes à audiência foi o de que a defesa do orçamento da Embrapa e dos institutos estaduais de pesquisa agropecuária deve sair do discurso e partir para a prática. “Nós temos que começar a colocar preço nesse discurso, porque orçamento é discurso com preço. Se todo mundo fizer um discurso generoso de profundo reconhecimento da história da Embrapa, mas na hora de representar isso no orçamento, o cortar, esse discurso não é verdadeiro”, afirmou Alceu Moreira.

Promovida pela Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, a audiência pública contou com a participação do presidente da Embrapa, Celso Moretti, do secretário-adjunto de Inovação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Pedro Corrêa Neto, e do ex-ministro da agricultura, Alysson Paulinelli. Além dos parlamentares, 17 chefes dos centros de pesquisa da Embrapa estiveram presentes, além dos diretores da Empresa, Lúcia Gatto (Administração) e Cleber Soares (Inovação e Tecnologia) e de representantes da Associação Nacional dos Pesquisadores da Embrapa (ANPE).

O deputado Christiano Áureo (PP-RJ) apresentou, na audiência, o espelho da emenda individual que pretende apresentar ao Projeto de Lei Orçamentária Anual 2020 que está em discussão no Congresso Nacional. A emenda irá favorecer com recursos para custeio e investimento as Unidades Descentralizadas do Rio de Janeiro.

Em seu discurso, Áureo reconheceu a importância dos três centros de pesquisa para o desenvolvimento econômico do Estado do Rio de Janeiro. “Somos o segundo maior produtor de flores, o terceiro de pescado, aumentamos nossa vocação leiteira no estado. Esse e vários outros feitos não teriam sido possíveis sem a participação da Embrapa”, afirmou, lembrando que mais do que laboratórios e prédios, é preciso valorizar o corpo técnico da Empresa.

O deputado Vilson da Fetaemg (PSB-MG) disse que é preciso defender não só a Embrapa, mas também os institutos estaduais de pesquisa agropecuária, ou seja, todo o sistema. Segundo o parlamentar, juntas, Embrapa e Epamig, nos últimos anos, contribuíram para promover a inclusão produtiva rural de milhares de agricultores de baixa renda em Minas Gerais. Hoje, com ajuda da tecnologia, vários deles estão na cadeia produtiva de exportação.

O ex-ministro Alysson Paulinelli lembrou que na década de 1970 a Embrapa teve condições de liderar o processo da pesquisa brasileira, juntamente com as instituições estaduais, universidades, empresas privadas e foi por intermédio do sistema nacional de pesquisa agropecuária que o país fez sua grande virada, passou de uma nação importadora de alimentos e desconhecedora de seus biomas para um país exportador.

No entanto, ele acredita que é preciso dar mais autonomia técnica, administrativa e financeira à Empresa para que continue a desenvolver o seu trabalho. “O Brasil hoje tem a maior janela de oportunidades que já surgiu em toda a sua história, com uma população mundial crescente em tamanho e renda. Se continuarmos a fazer a distorção existente na pesquisa e na tecnologia, estaremos jogando fora a oportunidade de o país mostrar sua capacidade de alimentar o mundo. Essa responsabilidade é fruto da confiança que o Brasil adquiriu ao criar a primeira agricultura tropical sustentável do mundo”.

O ex-ministro considera uma grande oportunidade a agricultura brasileira poder atender ao crescimento do mercado de orgânicos. “Toda a população está pensando em um alimento sadio e uma agricultura verde. Quem pode produzir uma agricultura verde para satisfazer as necessidades de um novo hábito alimentar que está se formando no mundo?”, indagou. Além disso, Paulinelli destacou a necessidade dos atuais 4,5 milhões de agricultores de subsistência participar do processo de inclusão tecnológica. “A Embrapa representa esta nossa ansiedade”, enfatizou.

Embrapa

O presidente da Embrapa, Celso Moretti, iniciou sua fala destacando que a Embrapa e o Ministério da Agricultura estão juntos e de mãos dadas na promoção do desenvolvimento do agro brasileiro. Ele lembrou que, em sua trajetória, a Embrapa fez com que o país mudasse de importador de alimentos para um dos maiores exportadores no mundo. “Neste ano vamos fechar a nossa produção de grãos com 240 milhões de toneladas. Somos um país que tem segurança e superávit alimentar, com uma agricultura baseada em mais de 300 cultivos, exportados para mais de 180 países no mundo inteiro, de grãos à carne, passando pelo leite e outros produtos. Quanto mais eu conheço essa empresa, mais sei da responsabilidade que ela tem com o nosso país”, reconheceu.

Moretti disse que o país saiu da insegurança alimentar para um dos maiores produtores de alimentos no mundo, em pouco mais de cinco décadas, e criou um modelo sustentável e competitivo de agricultura tropical sem paralelo no mundo. “Não tem nenhum outro país no mundo que produz como o Brasil, com tanta sustentabilidade, um robusto sistema de pesquisa e inovação”, afirmou, destacando que essa conquista é resultado de esforços coletivos, incluindo Embrapa e parceiros, tanto do sistema de pesquisa agropecuária quanto da iniciativa privada.

Em sua fala também explicou aos parlamentares a organização da pesquisa da Empresa, com seus 34 portfólios de projetos com foco em importantes temas de pesquisa que buscam atender os desafios do agronegócio brasileiro e da sustentabilidade. Também destacou importantes conquistas como a economia de R$ 19 bilhões gerada pela Fixação Biológica do Nitrogênio por ano (dados de 2018), a tropicalização da soja, que saiu do sul e alcança hoje quase todo o país e o aumento da produção do milho.

Moretti apresentou as várias entregas da Empresa para a sociedade nos últimos anos. Por exemplo, cultivares de arroz irrigado, como a BRS Pampeira, que contribuiu para o aumento em 50% das áreas de cultivo no Estado de Tocantins. Outro exemplo citado foi o feijão, atualmente 49% das áreas de cultivo do grão são de materiais desenvolvidos pela Embrapa. Ele lembrou ainda dos cafés da Amazônia que estão em plena ascensão, com variedades específicas sendo desenvolvidas para o bioma. O próprio trigo no cerrado que hoje permite que o produtor rural tenha ganhos de produtividade elevados.

“Hoje somos capazes de produzir trigo nos trópicos. Um produtor do município de Cristalina, em Goiás, produz hoje 8,2 toneladas de trigo irrigado, enquanto a média nacional é 3,2 toneladas por hectare. Tudo isso graças à tecnologia”, afirmou.

Moretti mencionou também a Uva BRS Vitória, presente em diversos supermercados brasileiros, as cultivares de alfaces tolerantes às altas temperaturas, o manejo integrado para o controle da vespa da madeira, a segurança alimentar no semiárido, entre outros desdobramentos da pesquisa. “Invistam em ciência, tecnologia e inovação para que o Brasil e outros países possam seguir tendo sustentabilidade e segurança alimentar. Cérebros e não tratores são o símbolo da agropecuária brasileira”, finalizou.

Pedro Neto, secretário-adjunto do Mapa, explicou que o ministério estabeleceu como pilares de sua gestão quatro macroprogramas: Agropecuária sustentável, governança fundiária (segurança jurídica, garantia, documento), defesa agropecuária (alimento seguro) e a pesquisa e inovação agropecuária. Hoje o setor agropecuário responde por 21,14% do PIB, 42% das exportações e por 18 milhões de empregos. “Quem nos guiou? Foi a ciência, um trabalho intenso capitaneado pela Embrapa e pelas empresas estaduais de pesquisa. Não podemos deixar de reconhecer o papel fundamental da Embrapa e reconhecê-la como a maior empresa de pesquisa agropecuária do mundo”, destacou o representante do Mapa.