Financiamento privado deve ganhar ainda mais espaço no agro em 2020

Análise feita pela CNA aponta para um cenário favorável na busca de novos mercados de investimento

lca, economia, governo
Veja o que esperar do financiamento para a safra e também o que deve ocorrer nas políticas agrícolas em 2020. Foto: Pixabay/montagem

A expectativa de melhoria dos indicadores macroeconômicos, em função da agenda de reformas que tem sido promovida pelo governo, aliada a alterações regulatórias setoriais, deverá impulsionar significativamente o financiamento privado para o agronegócio já em 2020. Esse é o sentimento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em sua perspectiva para política agrícola no Brasil em 2020.

Segundo a entidade, a taxa de juros básica da economia e a taxa de inflação, nos patamares mais baixos da história do país, geram ambiente bastante favorável para a busca de novos mercados de investimentos para investidores institucionais, fundos de previdência complementar e de investimentos, instituições financeiras e investidores pessoa física.

Esse cenário é bastante favorável ao agronegócio, segundo a CNA, pois deve gerar a ampliação da concorrência entre os ofertantes de crédito, especialmente em função de operações estruturadas por meio do mercado de capitais. 

Plano Plurianual Agropecuário 

A CNA apresentará uma proposta do Plano Plurianual Agropecuário em 2020, com o objetivo de subsidiar o governo a estruturar estrategicamente o planejamento de médio prazo para a execução dos instrumentos da política agrícola brasileira. As diretrizes desta proposta devem contribuir para:

  • Maior previsibilidade na execução da política agrícola;
  • Inserir um número maior de produtores rurais nas faixas de maior produtividade e renda;
  • Reduzir os custos intrínsecos ao financiamento agropecuário e aumentar a concorrência entre os ofertantes de crédito;
  • Aperfeiçoar a política, os instrumentos e os serviços associados à gestão de riscos da atividade agropecuária;
  • Aprimorar o ambiente regulatório, visando à segurança jurídica para tomadores de crédito e investidores no agronegócio brasileiro, inclusive estrangeiros;
  • Evitar a interrupção de ações ou programas cujo horizonte temporal seja maior que um ano;
  • Reduzir a ingerência política em programas e ações de apoio à agropecuária nacional. 

Finanças verdes para o agro

Com a publicação da Medida Provisória do Agro (MP nº 897/2019), a CNA diz esperar que o ambiente de negócios melhore para o setor já em 2020. A expansão do financiamento ao agronegócio, por meio do mercado de capitais, principalmente para atração de investimento estrangeiro, é um dos objetivos. 

Há expectativas positivas de que o mercado de títulos para o Agro se alavanque, inclusive o de títulos verdes, chamados no mercado internacional de green bonds. Além disso, o registro obrigatório das operações de financiamento agropecuário permitirá o aperfeiçoamento da análise de risco pelos investidores e, em consequência, o ajuste da taxa de juros dos tomadores de crédito. 

CAR, licenciamento ambiental
Foto: Zig Koch/ Embrapa

Atualmente, o Brasil é líder na emissão de títulos verdes na América Latina, com US$5,13 bilhões emitidos desde 2014, seguido pelo Chile, que conta com US$3,14 bilhões emitidos. Para 2020, a agricultura brasileira, que tem grande potencial para captar recursos nesse mercado, deve se beneficiar ainda mais. 

A MP nº 897 facilita o acesso do investidor internacional ao mercado do agro no Brasil, principal mercado para investimentos verdes. Além disso, em 2020, a Climate Bonds Initiative (CBI) deve divulgar os critérios para a certificação internacional de títulos verdes na agricultura. 

A certificação funciona como uma “garantia” ao investidor, assegurando que os recursos captados via emissão do título serão utilizados em projetos para mitigação e/ou resiliência climática.

Ambiente para renegociação de dívidas rurais 

Com o objetivo de reduzir despesas obrigatórias e ampliar o uso do orçamento com investimentos, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial, a PEC nº 186/2019, em sua proposta inicial, proíbe a renegociação de dívidas nos próximos dois anos. A PEC veda a criação ou a expansão de programas e linhas de financiamento, bem como a remissão, a renegociação ou o refinanciamento de dívidas que impliquem ampliação das despesas com subsídios e subvenções nos próximos dois anos. A PEC também veda a concessão ou ampliação de incentivos ou benefícios tributários. 

A proposta depende de aprovação do Congresso Nacional. Por isso, não há previsão de quando as medidas entrarão em vigor. Caso aprovadas, o governo f cará obrigado a reduzir subsídios em todos os setores, o que demandará uma análise criteriosa de custos e benefícios dos instrumentos de política agrícola adotados e a organização do setor para o fortalecimento pelo governo da gestão de riscos no setor agropecuário, uma vez que as renegociações de dívidas estarão vedadas. 

Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural

O anúncio de R$1 bilhão para a subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), em 2020, foi uma das maiores conquistas do setor em 2019. A garantia de R$1 bilhão para a subvenção a esse prêmio permitirá, no mínimo, aumentar em 2,5 vezes o número de produtores atendidos pelo programa.

Além disso, cria ambiente para o fomento de novos produtos de seguro, para o aprimoramento dos produtos de seguro já consolidados no mercado e para a atração de novos atores nesse mercado. A CNA tem trabalhado em conjunto com as seguradoras para a melhoria dos produtos de seguro, para atender a produtos e regiões que atualmente pouco utilizam esse instrumento de gestão de riscos. 

Com a ampliação de recursos para subvenção ao prêmio, as seguradoras estão atuando no desenvolvimento de produtos para aquicultura, pecuária de corte e leite, frutas, florestas, seguro paramétrico e, também, para melhorar os parâmetros das apólices de regiões de fronteira agrícola. A CNA entende que a ampliação e a melhoria na gestão de riscos são fundamentais para atrair recursos de segmentos privados para o financiamento de uma parcela do Agronegócio. Além da ampliação do volume de recursos para a subvenção ao Prêmio do Seguro Rural, é importante garantir previsibilidade de execução do orçamento destinado ao PSR e implementar um sistema para concessão da subvenção ao Prêmio do Seguro diretamente ao produtor rural, o que implica o empoderamento do produtor em sua gestão de riscos.

O Sistema CNA “considera o fortalecimento dos instrumentos de gestão de riscos como o pilar fundamental de uma nova política agrícola no país, pois, ao mitigar os fatores de risco ou transferi-los entre agentes privados, o produtor rural poderá acessar o crédito com taxas de juros mais compatíveis com a capacidade de pagamento da atividade, não comprometerá o seu patrimônio para fazer o pagamento dos recursos tomados para o custeio da safra, em caso de perdas, e também não reduzirá o seu pacote tecnológico em safras subsequentes.”