O debate para definir se o plantio da soja em fevereiro (para cultivo de sementes) em Mato Grosso segue aquecida. O programa Mercado & Companhia entrevistou dois especialistas para mostrar os dois lados: quem é a favor e quem é contra.
Para relembrar a discussão começou quando a Aprosoja-MT apresentou um estudo com o pedido para que fosse ampliado o período de semeadura da soja para fevereiro, para a produção de sementes, com aval do instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea). O problema é que para outros órgãos de pesquisa, a mudança favoreceria a proliferação de doenças como a ferrugem asiática.
Diante desta preocupação o Ministério Público do estado resolveu proibir, na última quinta-feira (30), a pesquisa para analisar a mudança, contrariando pedido técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), a entidade soltou uma nota esclarecimento apontando a razão para o pedido e o motivo pelo qual a proibição não é justa com os produtores.
O debate
O professor e pesquisador da Universidade de Passo Fundo (RS), Erlei Reis, afirmou que ao ser solicitado a participação e condução de experimentos para uma análise comparativa da situação (plantio dentro do calendário atual e em fevereiro), não encontrou qualquer estudo anterior que definisse a data correta para o plantio da soja no estado.
“Não encontramos nenhum dado de pesquisa do estado a respeito disso. Nossa pesquisa avaliou 28 lavouras de Mato Grosso, em todas as regiões e mostraram claramente a maior incidência da ferrugem asiática nas áreas plantadas em dezembro, ao invés de fevereiro”, diz.
Segundo ele, agora, após seu levantamento, existe a comprovação científica que a soja de fevereiro preserva melhor o meio ambiente e gera menos incidência da doença que a de dezembro.
“O cultivo da soja em fevereiro não tem problemas. Só traz vantagens, pois terá uma menor incidência de ferrugem, menor número de aplicações de fungicidas e portanto, menor pressão de seleção. Por isso somos a favor. A ciência comprovou. E não encontramos dados que sejam contrários a isso”, afirma Reis.
Já para o engenheiro agrônomo do estado, Alexandre Lopes, o estado é bastante grande e diferente e os dados podem ser bastante diferentes dos obtidos na amostra da pesquisa.
“O professor apontou diversas questões que, de fato, são relevantes para o debate. Mas o estado é grande e o que acontece em uma região, pode não acontecer em outro. Na minha opinião existe um risco muito grande de quando se joga essa safra para frente. O risco de submeter a cultura da soja a um super patógeno”, afirma Lopes.
Para ele, os pesquisadores do estado teriam muito mais conhecimento de causa para avaliarem a questão e fazer este estudo. “Os prejuízos é que, se em um futuro próximo, esse plantio fora de época possa proporcionar perda de controle da ferrugem asiática. O país não terá mais controle sobre a gestão fitopatológica”, diz.