Os prejuízos da peste suína africana (PSA) na China têm refletido nos grandes mercados produtores de proteína animal no mundo. Desde 2018, a doença já reduziu a criação chinesa suína pela metade. Além de a infecção ser fatal para os animais, grande parte dos 450 milhões de porcos que existiam no país precisaram ser sacrificados para evitar a disseminação da doença.
Por conta da crise, a China se tornou a maior importadora do mundo de carne de aves e suínos. E é aí que o Brasil entra, já que é o 4º maior produtor de carne suína no mundo. Em 2019, o país produziu cerca de 4,2 milhões de toneladas da proteína animal e exportou o recorde de 750,3 mil toneladas, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). A China foi o principal destino.
O assunto foi debatido no programa Direto ao Ponto deste domingo, 23, que entrevistou a diretora-executiva da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Daniella Bueno, e o coordenador geral da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Marcelo Fernandes Guimarães.
De acordo com a representante da Acrimat, os efeitos da peste suína africana e o aumento no preço interno da carne suína na China fizeram com que o Brasil ganhasse espaço no mercado chinês com as vendas de carne bovina. “O ano de 2019 vai ficar na história da bovinocultura de corte do país, principalmente por essa demanda da China, após os episódios da peste suína africana, dando abertura para que os chineses buscassem outros tipos de proteína”, disse Bueno.
A executiva da Acrimat afirmou ainda que, pelo segundo ano consecutivo, a produção de carne em Mato Grosso tem a China como principal destino de vendas. “Nós tivemos um aumento de quase 26% em relação aos anos anteriores e para nós está sendo uma grande oportunidade”.
Daniella Bueno também desmistificou a relação entre o aumento recente no preço da carne no Brasil e a forte demanda chinesa, já que não houve escassez do animal no mercado brasileiro. “A nossa maior demanda é o mercado interno. Não houve falta mas, sim, a entressafra brasileira por conta da seca, além do déficit no preço da arroba desde 2015. A China não consome qualquer bovino, ela só compra carne [de animais] com até 30 meses de idade”, afirma.
Durante o debate, o representante do Ministério da Agricultura disse que o volume do mercado consumidor chinês é muito grande e, com o problema da doença, abre espaço para outros mercados de proteína animal. “Você tem o frango, a carne bovina”, disse.
Guimarães ainda fez um alerta para a gravidade da peste suína africana, que é uma doença altamente contagiosa e preocupante. “A gente ainda tem muito mais perguntas do que respostas, e a maior preocupação é com o controle de disseminação da doença, além da própria segurança alimentar global”, alertou o coordenador do Mapa.
Peste suína africana no Brasil?
Em 1984 houve registro de PSA no Brasil, mas a doença foi rapidamente erradicada na época. Até o momento, o país é considerado livre da doença africana. Em 2019, houve registros no Nordeste brasileiro de peste suína clássica, que não tem nenhuma relação com a peste suína africana. O Brasil possui um programa nacional para controle da PSC.
As duas doenças são semelhantes clinicamente, mas causadas por vírus diferentes, sendo que a PSA é mais letal. O Ministério da Agricultura tem um plano de contingência nos portos e aeroportos, onde a fiscalização foi intensificada, já que a doença pode vir por meio de alimentos contaminados trazidos pelos turistas, como restos de carne suína.
Marcelo Fernandes Guimarães também fez um alerta aos produtores de diversas cadeias produtoras no Brasil, principalmente a de suinocultura, sobre a onda de comercialização com a China. “Para que você não se precipite e faça investimentos consideráveis, acima da demanda de mercado doméstico e internacional, pode ser uma oportunidade ou um risco, por isso que tem que ter muito cuidado”.
O que é a peste suína africana
A peste suína africana (PSA) é uma doença altamente contagiosa, causada por um vírus pertencente à família Asfarviridae. A doença se espalha via contato direto com animais infectados ou ingestão de lixo contendo carne de porco. Os sintomas no animal são febre alta, perda de apetite e hemorragia na pele e órgãos internos, além de diarreia, vômito, tosse e dificuldades respiratórias. O vírus leva à morte, em média, entre 2 e 10 dias após a contaminação. Tanto o vírus da PSC como o da PSA não causam doença em humanos, mas matam suínos domesticados e selvagens – como javalis.