O setor agropecuário do Rio Grande do Sul está preocupado com o decreto publicado pelo governador Eduardo Leite nesta quarta-feira, 1°, determinando que o comércio em todos os municípios do estado deve permanecer fechado até 15 de abril. De acordo com dirigentes de entidades ligadas ao agro, a medida que pretende deter o avanço do novo coronavírus deve ter impacto sobre o escoamento de produtos, a manutenção de máquinas e a economia em geral.
O período de suspensão das atividades comerciais estipulado pelo decreto baseia-se na expectativa de que, a partir dessa data, o estado esteja mais preparado para o enfrentar a pandemia, com maior número de equipamentos e estruturas de atendimento em hospitais, com a chegada de kits de testagem, exames rápidos e respiradores para UTI. O decreto garante a manutenção dos serviços essenciais.
No entanto, o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados já prevê problemas para seus membros. “Empresas que trabalham com queijo estão tendo dificuldade maior, porque o grande consumo desse produto está em pizzarias e restaurantes”, afirma o diretor-executivo da entidade, Darlan Palharini. Ele diz que os fabricantes de queijos já diminuíram em 40% seu faturamento por causa da pandemia.
Outro setor que poderia ser impactado negativamente, mas por enquanto respira mais aliviado, é o da cultura do arroz. Em plena colheita do grão no Rio Grande do Sul, os produtores precisam garantir a manutenção de colheitadeiras e outras máquinas. “A preocupação é com relação ao comércio de peças agrícolas e fornecimento de óleo diesel. Mas as lojas que vendem essas peças estão abertas, tomando todos os cuidados para prevenir contaminação”, garante o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho. Segundo ele, a entidade foi procurada por lideranças do governo, que queriam entender a real necessidade de manter esse tipo de comércio aberto. “O próprio governo do estado se interessou em saber da dinâmica da colheita para não fechar essas lojas”, diz.
A agricultura familiar também deve sofrer consequências com a paralisação do comércio, uma vez que grande parte da produção do segmento é vendida em feiras, pequenos mercados e até de casa em casa. Mas o setor comemora a manutenção de comércios essenciais para a atividade, “Estamos em plena colheita e precisamos que estejam abertos nos municípios as mecânicas, borracharias e lojas de peças, e os decretos do governador estão olhando para isso”, afirma o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva.
A Federação da Agricultura do estado (Farsul) também está preocupada com os reflexos do fechamento do comércio. Em conjunto com a Federação das Indústrias (Fiergs) e a Federação do Comércio de Bens e de Serviços (Fecomércio) pede a reativação da economia gaúcha.
A entidades temem o desabastecimento, que, segundo elas, poderá ocorrer caso se prolonguem por muito tempo as proibições de atividades empresariais. As entidades propuseram um retorno gradativo às atividades a partir de 1º de abril. Para Gedeão Pereira, presidente da Farsul, o Rio Grande do Sul está sendo “duplamente golpeado”: pelo coronavírus e pela seca. “O estado provavelmente vai perder metade da safra de soja por causa da estiagem”, diz.
Segundo Pereira, está se buscando junto ao Ministério da Agricultura soluções necessárias para diminuir os prejuízos. “Estamos trabalhando e em breve teremos notícias boas para o setor com auxílio das autoridades federais”.