No interior de São Paulo, alguns produtores perderam a janela ideal de plantio do milho e investiram em culturas de inverno alternativas, como é o caso do trigo. Atualmente, no entanto, a maior preocupação de quem produz alimento é outra: a crise do novo coronavírus, que já deixa suas marcas no agronegócio.
Esse é o caso de Silvio Frateli, produtor em Itapeva, que divide a propriedade de 2 mil hectares entre soja, batata e feijão, Neste ano, por causa do atraso do plantio da soja, acabou perdendo a janela do milho safrinha e vai apostar no trigo.
“No ano passado nós conseguimos plantar 600 hectares de milho safrinha. Esse ano não conseguimos plantar nada e a opção foi pelo trigo, que normalmente é uma cultura de maior risco por causa da geada ou seca. É mais complicada, com menor rentabilidade e maior risco”, disse.
Para quem plantou o milho, a maior preocupação é com o preço do grão, que continua caindo na bolsa de Chicago e já começa a perder o fôlego no mercado interno, mesmo depois de uma alta expressiva nos últimos meses.
Para os especialistas, pelo menos três fatores explicam essa tendência de queda. A primeira é a previsão de oferta maior do grão na safra norte-americana, depois vem a redução do valor do petróleo, que desestimula o consumo do etanol de milho e, por fim, a incerteza sobre a demanda por causa da crise do coronavírus.
“A paralisação das atividades coloca menos carros nas ruas, paralisando a demanda. Nos EUA, um terço do consumo de milho vai para o etanol. Se você tem um efeito negativo nessa cadeia produtiva, naturalmente você vai ter um efeito prolongado também para o mercado de milho”, disse o analista da Safras & Mercado, Paulo Molinari
Em 2019, a produção de milho foi recorde no Brasil, com 100 milhões de toneladas. O volume foi absorvido pelas exportações e uma demanda interna aquecida. Agora, com essa crise, fica difícil fazer alguma previsão não apenas para o milho, mas para toda a economia mundial.
“Essa demanda impacta negativamente no nível de emprego, no nível de renda, na capacidade das indústrias de manter a produção e tudo isso afeta a economia de forma geral. Isso implica na demanda mundial de carnes que determina a demanda global de de milho e farelo de soja. Portanto o tripé do nosso mercado de rações”, analisou Molinari.
E essa preocupação já chega ao Silvio. “Não adianta nada produzir e não ter para quem vender. Tem muita coisa que a gente está vendo que está se perdendo no campo. E uma coisa vai puxando a outra prá baixo. Se ficar muito tempo isso aí com certeza vai afetar o agro.”