O presidente Jair Bolsonaro afirmou em coletiva de imprensa nesta sexta-feira, 24, que o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, teria dito que só aceitaria a troca na direção da Polícia Federal (PF) quando fosse indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A exoneração do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, nesta sexta teria sido o estopim para a demissão de Moro. Bolsonaro diz que Valeixo declarou aos 27 superintendentes do órgão que queria deixar o cargo. Ciente disso, Bolsonaro teria sugerido o diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, para ocupar o lugar.
“Ontem, falei que a questão o Valeixo tinha que ter um fim. Pessoalmente, não tenho nada contra ele. Avisei que nesta sexta-feira, o DOU [Diário Oficial da União] publicaria a exoneração do senhor Valeixo, ao que tudo indicava por pedido. Mas ele disse teria que ser nome dele [o próximo diretor-geral da PF]”, afirmou o presidente, que disse ter questionado porque teria que ser um indicado de Moro e não dele, se é prerrogativa do chefe de Estado, com base na Constituição, a escolha de determinados cargos do Executivo
Nesse ponto, o presidente afirmou que “mais de uma vez” Sergio Moro teria dito que Valeixo só poderia ser substituído quando o ministro fosse indicado ao STF. “Reconheço as qualidades dele. Se um dia lá chegar, pode fazer um bom trabalho. Mas é desmoralizante para um presidente ouvir, ainda mais externar”, afirmou o presidente. Mais tarde, Moro negou a afirmação de Bolsonaro em sua conta no Twitter.
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‘Nunca pedi para blindar ninguém da minha família’
Acusado de interferir na Polícia Federal ao trocar o diretor-geral da PF, Bolsonaro frisou que esta seria uma prerrogativa do presidente. “Não preciso da autorização de ninguém para trocar qualquer um que esteja na pirâmide hierárquica”, diz.
O presidente também afirmou que jamais tentou ter acesso a investigações sigilosas, tendo apenas conversado com Moro em casos específicos. “É interferir mandar apurar quem mandou matar Bolsonaro? Ele estava mais preocupado em descobrir quem matou Marielle [Franco]”.
Outros dois momentos em que Bolsonaro teria pedido a ajuda de Moro foram quando o porteiro de seu condomínio disse que o presidente havia recebido visita de um dos acusados pela morte da vereadora carioca e quando foi noticiado que seu filho Renan Bolsonaro namorou a filha do ex-sargento acusado pelo crime.
“Nunca pedi para blindar ninguém da minha família. Jamais faria! Agora, lamento que a pessoa que mais tinha que defender a legalidade não o fez”, declarou.
Desalinhamento nas pautas
Bolsonaro disse que na última reunião de ministros cobrou um posicionamento de Sergio Moro sobre pessoas que estavam sendo algemadas por descumprirem a quarentena em alguns estados. “Ele tinha que mostrar a sua cara, tem amparo na Lei de Abuso de Autoridade e ela tem que ser cumprida. A resposta dele foi o silêncio”.
O presidente classificou Moro como um “ministro desarmamentista” e disse que encontrou uma dificuldade enorme com os decreto para facilitar o acesso a armas para os caçadores, atiradores e colecionadores registrados (Cacs). “Aquilo que defendi em campanha os ministros têm obrigação de estar junto comigo”, disse. “Agora, não posso conviver ou fica difícil a convivência com uma pessoa que pensa bastante diferente de você”.