Perspectivas 2011: Especialistas apostam em estabilidade do câmbio para 2011

Queda do dólar prejudicou as exportações em 2010A queda do dólar prejudicou as exportações em 2010, fazendo muitos segmentos voltarem seus negócios para o mercado interno. Mas 2011 começa com uma perspectiva um pouco melhor para os exportadores. Os especialistas acreditam numa estabilidade do câmbio e o desafio deve ser atrair mais investimentos e menos especuladores.

A paisagem em Andradas, cidade mineira que faz divisa com o Estado de São Paulo é marcada por cafezais. Os pequenos cafeicultores da região começam bem o ano de 2011. Vão exportar café verde para o Canadá pela primeira vez. Para eles, o momento é tão importante que vale até registrar em foto.

? É a realização de um sonho o pequeno produtor conseguir exportar esse café ? diz o presidente da Associação de Cafeicultores de Andradas, Sebastião Benevene.

Três contêineres vão deixar a cooperativa nos próximos meses. O primeiro foi abastecido com 320 sacas de café. Os cafeicultores conseguiram fechar o negócio, depois que se reuniram e aderiram a práticas sustentáveis no campo, obtendo assim o certificado do comércio justo, um sistema que beneficia pequenos produtores de países em desenvolvimento.

? É  muito bom porque a gente trabalha em grupo, um ajudando o outro. Nada mais bonito que um ajudando para conseguir realizar um sonho igual a esse que nós estamos realizando hoje ? diz o cafeicultor Maria Kavassini.

Os exportadores e principalmente os produtores esperam que esta cena se repita várias vezes ao longo de 2011. Porém, para que isso aconteça, é preciso manter a competitividade.

A exportadora de alimentos Daros BR negociou com canadenses e teve seis contratos cancelados em 2010 por causa da queda do dólar. A valorização da moeda norte-americana é fundamental para que os pequenos produtores continuem vendendo para o exterior em 2011.

? Se continuar o dólar do jeito que está agora. Nós vamos ter que reduzir realmente o nosso volume, substancialmente ? avalia o diretor da Daros BR, Marcio Eduardo Bertin.

O dólar nos atuais patamares preocupa os diferentes segmentos do setor agrícola.

? O fator cambial é imperioso para a competitividade de qualquer setor ? afirma o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antonio Camardelli.

O governo deveria gastar menos ou gastar melhor. O efeito dos gastos, o aumento dos gastos do governo só complica essa equação. Mas eu acho que o resultado dela é que em 2011 o câmbio vai ser um câmbio valorizado ? diz o presidente da Citrus BR, Christian Lohbauer.

Câmbio valorizado significa real mais forte e produto brasileiro mais caro no Exterior. Por isso, os exportadores temem perder mercado para a concorrência. Mas os especialistas acreditam que o dólar deve estabilizar em 2011. A crise na Europa mantém o euro enfraquecido, o que dá vantagem à moeda norte-americana.

? A perspectiva é que Europa deve continuar muito fraca e EUA em recuperação. Isso significa que dólar deve apreciar em relação ao euro. Consequentemente isso cria um piso natural na nossa taxa de câmbio. Então a gente deve ver a taxa de câmbio aqui no Brasil ao longo de 2011 ficando em redor de R$ 1,70 um pouco menos, eventualmente, dependendo da entrada de capital que você tiver ou um pouco mais ? diz o economista Sérgio Valle.

No Brasil, a economia deve continuar aquecida. Os juros devem subir de novo para conter a inflação.

? Você tem outros mecanismos, outros movimentos que fazem com que entre capital no Brasil. Por exemplo, taxa de juros deve subir ano que vem para combater inflação, então capital de curto prazo deve entrar aqui. Você tem investimento direto entrando de forma bastante forte no Brasil também. Então você tem mecanismos pra depreciar e mecanismos para apreciar ? explica Valle.

? A gente pode ter um ano mais duro em relação a ingresso no país. Quanto à taxa de câmbio, na minha opinião, permanece nesses níveis inalterados a menos que aconteça alguma coisa que a gente não saiba ? analisa o gerente de câmbio João Medeiros.

Para o economista André Sacconato, que acompanhou o desempenho do dólar ao longo de 2010, o desafio é atrair mais investimentos em produção e menos capital especulativo.

? O que a gente tem que fazer é tentar fazer medidas para atrair esse investimento como produção, como aumento da qualidade do capital no Brasil. E tentar puxar esse dinheiro para melhorar a competitividade dos setores produtivos no Brasil ? diz Sacconato.