De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a taxa de câmbio entre o dólar e o real está favorecendo o preço da soja brasileira, os valores nos portos estão 41% maiores em 2020 comparado a 2019, com a moeda americana próxima a R$ 6. Lucilio Alves, pesquisador do Cepea, falou sobre o tema e acredita que a alta do câmbio irá sustentar os preços altos no Brasil
“As cotações estão se elevando apesar das quedas em Chicago, quando esses valores dos portos são convertidos para reais, temos uma elevação expressiva. A soja base Paranaguá teve alta de mais de 11% somente na parcial deste mês, são valores altos que ainda não chegaram a todos as regiões do interior do Brasil. Com essas condições, as exportações estão sendo antecipadas, estamos com um ritmo de exportação muito mais intenso do que o ano passado, consequentemente isso reduz o estoque do México e ao longo dos próximos meses pode dar continuidade na sustentação dos preços do Brasil”, diz Alves.
O pesquisador conta que o preço do dólar deste ano é 3% menor comparado com o do ano passado, sendo assim, o que efetivamente da sustentação aos preços no brasil é o câmbio. Segundo ele, prever as cotações futuras é uma tarefa arriscada e acredita que os produtores devem aproveitar os níveis atuais.
Perguntado também a respeito da competitividade da soja brasileira no mercado global, principalmente em relação à disputa com os Estados Unidos pelo mercado chinês, Lucilio disse, “Em nível internacional estamos tão competitivos quantos os Estados Unidos e mais competitivos que a Argentina em virtude dos baixos níveis dos rios para escoamento. A relação Estados Unidos e China não é clara e é difícil prever o que pode acontecer daqui para frente, por enquanto temos preços alinhados com o mercado americano quando comparamos cotações em dólares”.
Lucilio confirmou que grandes produtores já estão negociando safras futuras, mas de acordo com o pesquisador, isso não acontece no cenário nacional pois muitos produtores tem dificuldades na negociação de insumos para a próxima safra.
“Grandes produtores, que negociam os insumos em dólares e conseguem fazer negociações para exportações em dólares tem negociado safras futuras, mas se a conta não for casada, o prejuízo é muito grande. Se analisarmos a região Sul e Sudeste, não vê situações como essa, vemos justamente o contrário, produtores com dificuldades porque as cooperativas não se anteciparam em alguns casos e agora estão com dificuldades de negociação e para receber os produtos”, comenta Alves.
O pesquisador do Cepea diz que os preços de insumos tiveram alta na mesma medida das taxas cambiais e nos preços das commodities e com essas altas, os custos de produção aumentaram. “Se pensarmos nos preços de insumos e soja agora, a relação é atrativa quanto a negociação que resta da safra antiga. Para a próxima safra, em algumas regiões nós tivemos relações de troca menores, então para o mês de maio e junho há um avanço nessas negociações, vamos ver de que forma essas campanhas, principalmente das cooperativas, podem ajudar os produtores”, finaliza Lucilio.