A ministra da Agricultura e Pecuária, Tereza Cristina, disse que é necessário implementar medidas de prevenção dos incêndios e de estímulo à retomada da atividade econômica no Pantanal. Entre as ações que precisam de impulso, ela destacou a reativação de linhas de crédito do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO). A ministra participou nesta sexta-feira, 9, de reunião da comissão do Senado que acompanha o enfrentamento do fogo que atinge o bioma.
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“Acho que precisamos aproveitar esse momento difícil para fazer um estudo sobre o rebanho do Pantanal, para saber quais são as atividades que os pantaneiros possam ter como alternativa. Mas precisamos deixar claro muita coisa, o Pantanal hoje é o berço da atividade de cria em Mato Grosso do Sul e não deve ser muito diferente em Mato Grosso”, disse.
Como boa parte dos incêndios se alastram por propriedades abandonadas e que acumulam matéria orgânica, a ministra falou da importância do bom manejo do boi para evitar o alastramento desses incêndios. “O boi é o bombeiro do Pantanal porque ele que come aquela massa do capim, seja ele o capim nativo ou o capim plantado, que foi feita a troca. É ele que come essa massa para não deixar como esse ano nós tivemos. Com a seca, a água do subsolo também baixou os níveis. Essa massa virou um material altamente combustível e pega fogo. Aconteceu o desastre porque nós tínhamos muita matéria orgânica seca que talvez se nós tivéssemos um pouco mais de gado no Pantanal, isso teria sido um desastre até menor do que nós tivemos esse ano”, comentou.
Pecuaristas reclamam da legislação
Revoltados com a acusação de serem responsáveis pelos incêndios dentro do Pantanal, pecuaristas abriram a porteira para mostrar que também são vítimas no Pantanal. Em reportagem exibida no Rural Notícias no dia 30 de setembro, o setor apontou a atual legislação ambiental estadual imposta dentro do bioma como a principal causa da tragédia ecológica e econômica.
A atividade da pecuária no Pantanal existe há mais de 300 anos. Na década de 1940, mais de 80% do rebanho bovino do estado de Mato Grosso se concentrava no território dos municípios do bioma. De lá para cá, no entanto, alguns fatores mudaram essa característica e isso deixou de ser uma realidade. Atualmente, menos de 400 mil animais ocupam essas áreas.
“É um berço ainda de cria, mas nós temos índices zootécnicos muito inferiores ao restante do estado porque o bioma ele proíbe a adoção de grandes tecnologias”, disse Daniela Bueno, diretora-executiva da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).
A indignação dos pecuaristas pantaneiros é com o rigor da atual legislação ambiental estadual vigente há 12 anos. Segundo o setor produtivo, isso impossibilita o manejo das áreas e um dos resultados é a existência de muitas propriedades abandonadas ou abaixo da sua capacidade de produção.
“Teve uma época que não podia nem criar o gado. Agora, pode criar o gado, mas você não pode limpar o pasto, você não pode usar o fogo controlado, você não pode formar pastagem naquelas áreas ruins. Então, essas áreas só vão acumulando matéria-orgânica, e essa matéria-orgânica é altamente inflamável, pegando fogo com muita facilidade, e você não tem controle dele. O Pantanal é um bioma diferente! Não se pode trazer leis de outros biomas e querer colocar aqui como foi colocado, então isso é incompatível para a nossa realidade. Em 1940, 1950 e 1960, era ‘povoado’ de gado. Hoje, o Pantanal está deserto e o homem pantaneiro está indo embora”, desabafou o pecuarista Cristóvão Afonso da Silva.