O tempo seco tem predominado no Rio Grande do Sul. Quando chove, o volume é insuficiente para recuperar a umidade do solo. A estiagem prejudica as lavouras de milho e também se reflete em perdas na soja e na produção de leite.
Boa Vista do Cadeado, no noroeste do estado, não vê chuva significativa há mais de 60 dias. Sem umidade, o produtor de leite Rafael Hermann não tem como plantar milho para fazer silagem e alimentar os animais.
“A preocupação nossa, como produtor, é o custo de produção. Ele vem subindo bastante. O preço do litro do leite até veio acompanhando, mas a preocupação é como vai ficar a situação se o litro do leite ao produtor baixar. A gente sabe que muitos produtores não conseguiram reservar matéria-prima para passar por este momento. A vida do produtor no campo está cada vez mais difícil”, desabafa.
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Em Doutor Maurício Cardoso, a estiagem está tão severa que a prefeitura decretou situação de emergência. As perdas com o milho chegam a 75%. O produtor de leite Joel Dalcin pede ajuda dos governos estadual e federal para continuar plantando. “Está na hora de tirar um pouco os projetos, a nível estadual e federal, do papel e fazer acontecer. Investi ao redor de R$ 3.500 por hectare para implantar a lavoura e não vai ter retorno nenhum”, afirma.
O produtor Adílio Laviniski, de Alpestre, na região do Alto Uruguai, relata perdas com milho, uva, fumo e laranja. O município também decretou situação de emergência por causa da seca. “A realidade é esta: com a falta de chuva, a gente não tem o que fazer. Vai ser um ano de prejuízo bastante grande para as pequenas propriedades”, conta.
Valdinei Donato planta milho em São Nicolau, na região das Missões, e está driblando a estiagem com a ajuda de um pivô. “A lavoura está com excelente potencial produtivo e a gente tem tido ótimos resultados nessas áreas irrigadas na região”, diz. “Porém, em uma parte onde não pega umidade, onde não é molhado, há diferença no potencial produtivo”, complementa.
Perdas significativas
Na região da Emater de Santa Rosa, que reúne 45 municípios, muitos produtores de milho, que financiaram a safra pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), já estão solicitando vistoria das lavouras atingidas pela estiagem.
De acordo com o gerente regional adjunto da entidade, José Vanderlei Waschburger, cerca de 60% dos 140 mil hectares cultivados com milho na região estão tendo prejuízos, e o número pode aumentar.
“O milho, que foi implantado para a silagem, para alimentação dos animais, visto que também é uma das regiões que mais produz leite no estado, também vem enfrentando dificuldades. Inicialmente, se previa em torno de 35 a 40 toneladas de massa verde por hectare. Hoje, está em torno de 14 toneladas e a tendência é até de diminuir. Já estamos enfrentando redução de produção de leite em função da falta de pastagem verde, não está acontecendo a rebrota e também não está sendo possível fazer as adubações necessárias”, conta Waschburger.
O gerente de planejamento da Emater-RS, Rogério Mazzardo, diz que no caso da soja, em áreas plantadas até o momento que não tiveram umidade suficiente, deve haver replantio. “Ainda não temos um percentual estimado de perdas para a cultura, pois ainda estamos dentro do zoneamento agroclimático do período recomendado para o plantio. Já na cultura do milho, nos estamos com 75% da área plantada no estado. As primeiras áreas estão sofrendo com a falta de umidade”, diz.
Representantes do agro gaúcho já se articulam
O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, afirma que muitas famílias já estão calculando os prejuízos e cobra políticas públicas para assegurar o mínimo possível de perdas para os produtores gaúchos.
“Estamos prevendo reuniões para a próxima semana com as entidades para que a gente possa trabalhar uma pauta para o governo do estado e o governo federal . Precisamos agilizar! Onde nós tivemos perdas no milho, nós precisamos liberar as lavouras com o pedido de Proagro para que a gente possa implementar uma outra safra . Há tempo para isso, o zoneamento agrícola permite isso, mas nós temos a burocracia que precisa ser vencida para que isso aconteça”, esclarece.
O presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Ernani Polo, já solicitou ao governador Eduardo Leite que estude a possibilidade de desonerar os equipamentos utilizados na irrigação das lavouras, mas ele alerta que é preciso também ter a capacidade de armazenar água e fornecimento de energia elétrica.
“Estamos também encaminhando ao governo do estado a necessidade de disponibilizar sementes, novamente, do Programa Troca-Troca e forrageiras, assim que a chuva vier para que os produtores possam fazer o plantio. Precisamos ainda desburocratizar e simplificar mais a armazenagem de água para os produtores. Temos um gargalo também com a falta de disponibilidade de energia elétrica, que são duas infraestruturas necessárias”, conta Polo.
O secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul, Covatti Filho, diz que o governo do estado tem feito investimentos em poços artesianos e açudes desde a estiagem do verão passado. “Também estamos estudando uma forma de incentivar os pequenos agricultores, através de subsídios para equipamentos e da implementação de programas de irrigação. Vamos procurar muita ajuda do Ministério da Agricultura para que a gente consiga trazer milho de outras partes do Brasil para atender a demanda interna”, afirma.