A soja e o milho estão entrando em um ciclo de alta no mercado internacional parecido com o registrado em 2004 e 2005, de acordo com o diretor da consultoria Céleres, Anderson Galvão. “Talvez não na mesma intensidade, mas na mesma direção. É o que começamos a observar neste final de 2020”, diz.
Segundo ele, na época, a soja passou de US$ 6 por bushel para US$ 17 por bushel. O milho saiu de US$ 3 por bushel para US$ 8 por bushel.
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Um dos fatores que colabora com a projeção é a desvalorização do Dollar Index no mundo. “Após atingir picos em 2018 e até 2019, bateu no teto e começou, gradativamente a perder valor. Dólar barato significa commodities caras”, afirma. Galvão diz que em 2012, quando a soja estava em quase US$ 18 por bushel, a moeda norte-americana estava em um dos menores patamares.
Também corrobora com a tese o fato de que bancos centrais têm tentado dar mais liquidez financeiras às economias globais, o que aumenta o consumo da população. “A exemplo do coronavoucher no Brasil [auxílio emergencial concedido pelo governo federal], pouco do dinheiro que vai para o bolso da população se traduz em demanda alimentar”.
Pesam também as quebras de safra e produções menores em países importantes, como Ucrânia e Estados Unidos, além da demanda chinesa extremamente aquecida.
Para onde vão os preços da soja e do milho?
O diretor da Céleres acredita que a soja pode chegar a US$ 12 por bushel na Bolsa de Chicago caso haja problemas na safra 2020/2021 da América do Sul, o que é bem possível por conta da estiagem causa pelo La Niña. Se isso acontecer e os Estados Unidos também tiverem problema no ano que vem, a oleaginosa pode ir a US$ 14 por bushel.
No caso do milho, se a próxima safra de inverno tiver problemas, as cotações podem ir a US$ 5 por bushel. “Tem outro fator que é a China, que finalmente entrou no mercado internacional de milho. Dependendo do nível de demanda, teremos preços firmes em Chicago e em outros países importantes”, diz.
Para o produtor brasileiro, mesmo que o dólar caia para R$ 5, a correção dos preços em Chicago devem manter a saca nacional em patamares elevados. “Traz mais conforto e tranquilidade para o agricultor e leva a agricultura para mais um ciclo de expansão de área, tecnologia e ganhos de produtividade”, frisa.