O produtor rural brasileiro deverá enfrentar nos próximos meses todas as anomalias comuns em anos de La Niña. Isso porque a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (Noaa) confirmou que o fenômeno deve ser um dos mais fortes dos últimos 20 anos, o que deve causar mudanças na frequência das chuvas até o mês de março de 2021.
Como de praxe, o fenômeno leva chuvas mais significativas ao Matopiba e atrasa as precipitações no Centro-Oeste, além de submeter a região Sul, principalmente o Rio Grande do Sul, à estiagem severa, o que já está acontecendo.
Como essas regiões já sofreram com déficit hídrico desde o fim de 2019, a situação pode se agravar em algumas localidades, como no Pantanal. O bioma sofreu com queimadas violentas nos últimos meses e na região de Nhecolândia, produtores relatam falta de água. Em vídeo que circula nas redes sociais, um produtor rural mostra uma cena impressionante: dezenas de jacarés se amontando em um açude quase seco. A poucos metros, o gado muge de fome:
Segundo o pantaneiro, que não se identifica no vídeo, tratava-se do último açude da fazenda Palmeirinha. “Está preocupante aqui. Estamos aguardando, mas nada da chuva. Deus sabe o que faz”, diz o produtor, com a voz embargada pela situação.
Desespero no Sul
Se as chuvas estão irregulares no Centro-Oeste, a situação se mostra ainda mais desoladora em algumas regiões do Sul do Brasil em decorrência do La Niña. Em Chapecó (SC), o produtor de leite Jaisson Tirone contou que precisou abater parte de seu rebanho de vacas leiteiras por causa da falta de pastagem e preço elevado das rações. Por conta destes fatores, ele já contabiliza mais de R$ 800 mil em prejuízos.
Dos 125 animais, 15 já foram ser abatidos e, de acordo com Tirone, na próxima semana esse número deve aumentar para 45. “Por conta da chuva, não houve produção de silagem e a ração precisa ser encomendada de fora, mas o preço é muito alto, cerca de R$ 400 a saca.”
Ainda segundo ele, na região existem cerca de mil produtores e 980 já contabilizam prejuízos por causa seca. “Há 30 anos estou nesta profissão, é uma atividade de família, mas é a primeira vez que precisei tomar essas medidas. Agora, o que nos resta é tentar manter o que sobrou e seguir em frente”, lamenta.
Também no oeste de Santa Catarina, o produtor Jair Trizotto registra perdas. Segundo ele, 18 vacas foram abatidas em função da dificuldade de encontrar alimentos destinados aos animais. “Nos próximos dias, se a chuva não chegar, vamos abater ainda mais animais. Está difícil encontrar os insumos, principalmente farelo de soja e silagem”, afirma ele.
Trizotto, que também cultiva milho, já mensura danos ao fim da safra. “Os pés do grão não se desenvolveram. Nesta época do ano, o normal é ter cerca de 2 metros, mas não chegou nem mesmo em meio [metro]. Com isso, já estamos estimando uma perda de 80% em nossa produtividade.”
Vai faltar milho?
A estiagem no último trimestre de 2019 e agora no último semestre de 2020, já sobe os efeitos do La Niña, tem complicado a vida do produtor rural do Rio Grande do Sul.
Regiões que representam 90% da produção de milho no Rio Grande do Sul e incluem as porções norte e nordeste do estado podem ter uma quebra de até 80% por conta da estiagem. “Sem contar as lavouras que possuem alguma irrigação, as outras já foram embora, mesmo se chover não tem o que fazer”, afirma Valdecir Folador, presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul.
Segundo o meteorologista da Somar, Celso Oliveira, quando o quando o milho perde o potencial de produção ele não reverte com a volta da chuva. Para a soja, que ainda está no início da instalação, quem perdeu pode tentar o replantio. “Vai dar para aproveitar a chuva que vai acontecer na semana que vem para a soja, só que o produtor tem que levar em consideração que estamos com o fenômeno La Niña atuando, então a recomendação é usar sementes de ciclos mais longos ou médios que aguentam mais a irregularidade das pancadas na fase de desenvolvimento vegetativa”, diz Celso Oliveira.
Pedido de socorro
A situação é tão crítica que 394 municípios decretaram estado de emergência causados pelos efeitos da seca e entidades gaúchas do agronegócio já enviaram um pedido de ajuda ao presidente da República, Jair Bolsonaro, pedindo planos de ação para conter os prejuízos.
Federação dos trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do. Rio Grande do Sul (Fecoagro), Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Farmurs) e Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) destacam ações onde o governo federal pode ajudar a minimizar os efeitos da seca no estado.
Segundo as entidades, entre essas ações está a criação de uma linha de crédito de custeio de milho emergencial que não tenha impacto no risco bancário e no limite de crédito para permitir o produtor rural implantar outro empreendimento. Também se fala no aumento dos estoques de milho no estado com envio de pelo menos 100 mil toneladas para ser comercializado através da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Há também pedido diretamente ao governo estadual como a criação de um programa de reservação de água e irrigação adequado à realidade das propriedades rurais e da legislação ambiental; desoneração dos equipamentos de irrigação; reabertura do programa troca-troca de milho safrinha e antecipação da abertura do programa forrageiras. O documento enviado ao gabinete do presidente da República já foi encaminhado para o ministério da Agricultura.
Previsão do tempo
De acordo com a editora do Tempo do Canal Rural, Pryscilla Paiva, a chuva voltou generalizada do Paraná ao Pará, mas ainda existem alguns bolsões de seca no Centro-Oeste. Com o La Niña consolidado, há uma irregularidade do retorno das chuvas à região e, mesmo locais onde chove forte. É comum, por exemplo, chuvas fracas e mais fortes em uma mesma propriedade rural.
O Rio Grande do Sul sofre essa estiagem desde o ano passado, com o último trimestre de 2019 com chuva abaixo do normal e todo 2020 também. Mesmo com uma onda de chuvas significativas para 10 dias a partir da próxima semana, a situação do milho já é dada como perdida.
No entanto, para o pecuarista de Santa Catarina, a notícia pode ser boa já que a chuva pode aliviar as questões da pastagem, assim como para lavoura de soja e arroz
Que La Niña é esse?
Segundo o Noaa, o fenômeno deste ano é de forte intensidade e caracterizado pelo resfriamento do oceano pacífico equatorial, que registra uma anomalia negativa de aproximadamente 1,5 °C.
“Não será um La Niña duradouro, já que até o início do outono ele deve ir embora. No entanto, segundo meteorologistas, estamos chegando ao ápice do fenômeno nesse fim da primavera e início do verão e é por isso que estamos registrando esses problemas tanto no Centro-Oeste como na região Sul”, disse Pryscilla Paiva.
Com isso, regiões que já sofrem com déficit hídrico há mais de três meses devem enfrentar o pior momento nas próximas semanas. No entanto, mesmo com a volta da chuva, a situação ainda não será favorável.
“O Rio Grande do Sul e áreas do Mato Grosso do Sul terão áreas com chuva muito abaixo do normal em dezembro e, em janeiro, as chuvas começam a entrar dentro da média história. Mas isso não é motivo para comemoração absoluta, pois o estresse hídrico em algumas localidades foi tão grande que mesmo com o retorno das chuvas a situação continuará ruim”, explicou.
Aplicativo e site do tempo
O Canal Rural, maior veículo de comunicação segmentado do agronegócio brasileiro, está completando 24 anos e presenteia os produtores rurais e internautas com uma ótima novidades. É o lançamento do aplicativo Radar, que traz para a palma da sua mão as principais notícias do dia para você ficar ainda mais informado e conectado com o agro.
É o agrojornalismo em tempo real, que também traz notícias ao vivo do Canal Rural e do Canal do Criador, veículo exclusivo para conteúdo de pecuária lançada em setembro. Negócios, cotações, clima e muito mais no seu celular.
O aplicativo está disponível para download gratuitamente na Apple Store, para celulares com sistema iOS, e também no Google Play, para equipamentos Android.
Lançado em setembro, o novo site do Canal Rural oferece gratuitamente a previsão detalhada com até 7 meses de antecedência. Antecipar o comportamento do clima com mais de 200 dias de antecedência vai permitir que o produtor rural consiga avaliar os momentos mais oportunos para todos os trabalhos na lavoura.
Com esse serviço, será mais fácil fazer um planejamento do plantio à colheita. Basta se cadastrar no site para ter acesso a inúmeras informações sobre tempo e clima.
O usuário tem também à disposição o menu Minhas Propriedades, onde pode cadastrar três localidades através de geolocalização, GPS ou por coordenadas (latitude e longitude). É um conteúdo personalizado, no qual o usuário escolhe o que vai consumir. Dessa maneira, toda vez que o site for acessado, será possível encontrar uma previsão de acordo com o interesse, facilitando a navegação e proporcionando uma experiência mais dinâmica e direta.
Se o usuário for um produtor de soja, por exemplo, ele pode também optar por receber todos os conteúdos do Canal Rural sobre essa commodity nesse mesmo ambiente. O serviço funciona na área logada do usuário.
Além disso, o site tem notícias de meteorologia focadas nos temas mais relevantes ao agronegócio, de acordo com o calendário agrícola das principais commodities do Brasil. O site disponibiliza acesso a todos os vídeos de previsão do tempo veiculados na grade do Canal Rural. Pryscilla Paiva, editora de Tempo e Clima, traz as informações detalhadas para cada região do país, além de um panorama geral do comportamento das chuvas na próxima quinzena com o boletim Brasil 15 dias.
Na opção “Mapas”, o usuário do novo site do tempo tem acesso aos Mapas Agrícolas com informações de água disponível no solo, condição para manejo e estiagem agrícola. Também existe a janela dos Mapas Observados, onde é possível consultar o acumulado de chuva das últimas 24 horas e do mês atual, além de informações do desvio de chuva que mostram onde os volumes ficaram acima ou abaixo da média climatológica no período vigente.