Na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), o maior entreposto da América Latina, todos os dias são negociadas 10 mil toneladas de alimentos. Lá, José Luiz Batista, um dos maiores distribuidores, com a experiência de quem está no ramo há mais de duas décadas, conta que o transporte e o manuseio são um dos maiores custos das hortaliças que chegam à mesa do consumidor.
? O produto, depois de colhido, não melhora. Você só pode conservar ele. Ele só piora. O nosso transporte, para a hortifruticultura, ainda precisa melhorar bastante. Em carrocerias abertas, por mais que você higienize o produto, por mais que você prepare o produto, caminhões com carroceria aberta prejudicam bastante o transporte. Hoje o ideal seria tudo em caminhões baú térmicos ? diz Batista.
Alguns produtos podem ter o custo de manuseio, transporte, e distribuição maior do que o custo de produção. É o caso de itens leves, que ocupam bastante espaço, como a berinjela e o pimentão. Na Ceagesp, o preço da caixa pode ser de 30 centavos por quilo.
Especialidade do Batista, o tomate é um dos produtos preferidos na mesa do brasileiro. Uma das áreas que fornecem tomate é o município de Linhares, no Espírito Santo. Lá, a família de Denisson Patrício produz a cultura há 40 anos. E poucas vezes se viu um desânimo tão grande.
? Estamos pensando em nem plantar mais tomate. O custo é alto, dependemos de muita mão de obra e hoje está muito difícil pra trabalhar. Agricultores estão vindo de outras culturas: café, milho, e estão vindo para plantar tomate. Quem plantava 50 mil tá plantando 200. E quem nunca plantou, tá plantando 100 mil. A quantidade é muita ? explica Patrício.
Depois da colheita, é preciso calcular custos como o transporte e as embalagens. A conta feita pelo Denisson é simples: O custo de produção é de R$ 8. O transporte fica em R$ 2, e a caixa de madeira é comprada por mais R$ 2. No total, o produtor gasta R$ 12 reais para produzir e transportar. Mas sabe por quanto eles estão conseguindo vender? Por R$ 10 reais! Prejuízo de R$ 2 reais por caixa.
Assim como os produtores de tomate do Espírito Santo, o produtor Jorge Kanomata, de Biritiba Mirim, interior de São Paulo, também procura alternativas para manter a rentabilidade da plantação de hortaliças. Ele vende direto para empresas e feirantes. Tem movimento de caminhão a manhã inteira. Ao todo, são mais de 40 compradores diferentes. É preciso organizar uma grande tabela para saber que produto vai ser buscado em cada dia da semana.
? Que diferença tem vender direto para o supermercado ou para entrepostos como Ceasa e Ceagesp? Uma grande diferença é o custo de comercialização. Cai bastante se ele conseguir eliminar intermediários, ele consegue uma renda melhor ? explica Kanomata.
Jorge calcula que, no passado, 90% de suas vendas eram feitas através da Ceagesp. Hoje esse volume caiu para 10%.
? Quanto menos intermediários, melhor, né? Sim, isso é o ideal. O produtor vai ser melhor remunerado por seu produto ? afirma.
Em Salesópolis, também em São Paulo, encontramos produtores que apostam em embalagens especiais para as hortaliças. Assim, evitam as perdas com o transporte. Uma boa parte das alfaces ainda vai para os compradores do jeito tradicional, inteiras. Mas está crescendo a procura pelo produto cortado e lavado, pronto para o consumo.
? Vantagem é pro consumidor. Cada dia o consumidor tem menos tempo de preparar a comida esse produto é pra abrir e ter praticidade ? diz o empresário Jony Takagaki, que acredita que essa seja a tendência do mercado.
Paulo César Tavares de Melo, presidente da Associação Brasileira de Horticultura, confirma que o transporte é um dos maiores problemas da produção de hortaliças no Brasil. Para ele, as perdas entre a lavoura e a mesa do consumidor são enormes.
? Eu diria que, hoje, numa avaliação bem otimista são 30% depois que o produto sai da porteira.