O agricultor Fernando Cadore assume a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) nesta sexta-feira, 18. Ele foi eleito em novembro para comandar a entidade no triênio 2021-2023, substituindo Antonio Galvan, de quem foi vice-presidente na gestão anterior.
Desde sua campanha, Cadore reforça que a associação buscará aprofundar a participação dos produtores, dando voz aos anseios do setor. “Em nome da diretoria eleita, conclamo a todos os produtores associados a participarem, trazendo suas sugestões e críticas, para que a gente possa ser os porta-vozes de toda esta base”, diz.
O presidente da Aprosoja Mato Grosso deu entrevista ao Canal Rural e falou sobre temas importantes para a agricultura mato-grossense, como taxação de produtos agrícolas, desafios climáticos, moratória do Cerrado, venda de terras a estrangeiros e falta de armazéns. Confira na íntegra a entrevista!
Canal Rural: Você vai assumir em quais condições? Quais são os desafios e perspectivas em meio a uma safra que começa com problemas por conta do clima?
Fernando Cadore: Sem dúvida nenhuma, a gente assume em meio a desafios. Uma safra que começou atrasada e com muita apreensão. Temos a perspectiva de que a safrinha comece atrasada também.
Mas estamos preparados para assumir os desafios de uma entidade de classe como a Aprosoja, que representa 7.200 produtores. Estamos rodando, temos muitos projetos sendo tocados e nos pautamos nas demandas do produtor. Hoje mesmo estamos em assembleia, com os nossos associados definindo os rumos deste próximo triênio.
Em nome da diretoria eleita, conclamo a todos os produtores associados a participarem, trazendo suas sugestões e críticas, para que a gente possa ser os porta-vozes de toda esta base.
Canal Rural: Quais seriam as principais diretrizes que estão no radar da nova diretoria?
Fernando Cadore: Temos alguns temas que já estão sendo tocados, como a questão ambiental, que é uma questão delicada. Temos o projeto Guardião das Águas, que mapeou a maioria das nascentes do estado, e cada vez mais fica comprovado a nossa sustentabilidade.
Não existe lugar no mundo em que se produza como em Mato Grosso – usando 10% do território e sendo celeiro mundial – e que seja atacado como é o estado. A gente precisa consolidar isso para a sociedade urbana, e começa em nós, enquanto cidadãos. Precisamos começar a difundir isso, ter orgulho do que a gente faz e de como a gente produz. Esse é o grande desafio que nós temos. Não precisamos fazer nada, só mostrar a realidade que a gente vive.
Somados a isso, a gente tem alguns desafios da questão estática, que tem a ver com a logística. A gente trabalha muito forte com o movimento Pró-Logística, que cuida da infraestrutura, das estradas, das ferrovias e das hidrovias. A gente tem o gargalo que é a armazenagem, que vem de muito tempo e foi muito discutido nesta campanha [à presidência da Aprosoja Mato Grosso].
Hoje, a gente tem armazéns para apenas 50% do que se produz em Mato Grosso. A perspectiva do Imea é que a gente aumente em 45% a produção nos próximos 10 anos. Onde a gente vai por isso? Precisamos tratar desse tema de uma maneira enfática e mostrar que é um problema da sociedade, do país.
Canal Rural: Há uma pressão muito grande pela imposição da moratória da soja no Cerrado, qual a avaliação da Aprosoja Mato Grosso?
Fernando Cadore: Desculpe o termo, mas é ridículo. Ridículo porque nós temos um Código Florestal mais restritivo do mundo, que consolida o país como produtor altamente sustentável como não vamos em lugar nenhum do mundo. Tivemos a oportunidade de acompanhar a produção em países que concorrem conosco e lá não se tem nem um terço do que temos aqui.
Implementar uma restrição em cima de negócio que já é extremamente restrito pela legislação brasileira não tem sentido nenhum. Acredito que o produtor compactua conosco, o que estou falando aqui, falo em nomes dos produtores. E é inaceitável! Que se cumpra o Código Florestal, que se penalize quem estiver fora da lei, mas não venham impor restrições em um país que já é extremamente restrito. Temos regulamentações demais! Precisamos desburocratizar e cumprir a lei, que por si só já é extremamente rígida e condiz com os anseios mundiais em relação à produção sustentável.
Canal Rural: A Aprosoja Mato Grosso está preocupada com a taxação do agro?
Fernando Cadore: O agro deve ser visto de uma maneira mais sensível. Quando está indo tudo bem, ele é provedor de renda e alimentos para o país. Então não precisa ter subsídio ao setor como existe na Europa e nos Estados Unidos. O Brasil consegue sobreviver sem. Agora, não pode se penalizar!
Imagine você que, em um ano de adversidade climática, como estamos no Rio Grande do Sul, partes do Paraná e Mato Grosso, a gente já tem o risco de fatores externos nos prejudicarem. Nós não podemos deixar que fatores controláveis por meio de políticas públicas firam a rentabilidade e a sobrevivência a médio e longo prazo do setor.
A gente é extremamente contrário a qualquer tributação sobre o agro e sobre qualquer setor que esteja crescendo com as próprias pernas, em um país sem infraestrutura suficiente como o nosso e sem as condições que os nossos concorrentes têm.
Canal Rural: Como a Aprosoja Mato Grosso avalia a compra de terras por estrangeiros?
Fernando Cadore: É um tema polêmico que precisa ser mais discutido com a base. Tudo tem que ser muito bem regulamentado. Existe a preocupação de uma ala nossa de produtores que é como será a sustentabilidade dos municípios que serão afetados por isso.
Se a gente fizer o mapeamento histórico dos municípios que são pujantes no nosso estado e em todo o país, vemos que o fracionamento das áreas é o que faz o município crescer. Propriedades normais como a gente tem em Mato Grosso – 85% delas com até 3.000 hectares, 50% até 500 hectares – é o que faz prosperar. O produtor cria seus filhos ali, ele cria uma vida e um ambiente. Isso tem que ser levado em consideração.
Nós não temos nada contra nenhum produtor de bem que venha se instalar. Porém, tem que se levar em consideração a expansão socioeconômica também, que é o que faz o estado e o país crescer de forma sustentável, com a população com conhecimento e infraestrutura.
A gente pede que as autoridades responsáveis por isso levem esse ponto em consideração. Avaliem a distribuição das áreas dos municípios que são pujantes, porque isso é essencial para tomar a decisão. Ainda é muito incipiente. Precisamos discutir mais para ter uma opinião mais concreta, pautada na nossa base.