A China está propondo um novo padrão de qualidade para a soja mundial. O alerta é do presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ricardo Arioli. Em participação no segundo programa Aliança da Soja, parceria entre o Canal Rural e a Plataforma Intacta 2 Xtend, o especialista exaltou a importância de unir os elos da cadeia do grão para o fortalecimento do setor.
“Sempre que conseguimos deixar de lado as nossas alergias e focar em nossas sinergias, tivemos grandes resultados. Cito, por exemplo, o programa Soja Plus, desenvolvido pela Aprosoja em parceria com a Abiove, que conseguiu ‘passaporte’ sustentável e responsável da soja brasileira para a Europa e para a China, nossos dois principais compradores”, exemplifica.
De acordo com ele, a nova demanda do país asiático compõe mais um grande desafio aos sojicultores brasileiros. “A China já encaminhou uma nova proposta à Organização Mundial do Comércio [para o novo padrão de qualidade da soja] e o nosso Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) está estudando o tema. Precisamos focar todos os elos da cadeia para tentar atender a esses novos padrões que mudam muita coisa. Parece que é pouco, mas é bastante. A questão da qualidade precisa estar presente em nosso dia a dia desde o início do plantio, com sementes de qualidade, até à entrega do produto ao consumidor final”, diz.
Segundo Arioli, é importante destacar que a soja é a cultura que está propiciando o desenvolvimento interno do Brasil. “Temos muitos desafios pela frente, principalmente para mostrar ao mundo que a nossa soja é realmente sustentável e está trazendo desenvolvimento, melhorias e qualidade de vida para todos os brasileiros”, sintetiza.
Liderança incontestável
O Aliança da Soja destacou o papel do Brasil como produtor líder mundial da soja. Sempre ligada ao desenvolvimento de novas tecnologias, a ampliação do plantio da oleaginosa no país passou por transformações ao longo das décadas para atender a demanda interna e externa.
Atualmente, 15 estados e o Distrito Federal estão envolvidos na produção do grão. Mato Grosso encabeça o ranking nacional de produção, com 35,875 milhões de toneladas na safra 2020/2021, seguido pelo Rio Grande do Sul (20,787 milhões de toneladas).
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desempenho positivo da soja contribuiu para que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor agropecuário atingisse R$ 208,8 bilhões no primeiro trimestre de 2021, crescimento de 5,75% em comparação com o mesmo período de 2020. Além disso, o agro liderou a criação de empregos no ano passado, com abertura de 60 mil postos de trabalho. Desses, mais de 13 mil foram ligados à soja, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O valor bruto da produção da commoditie deve alcançar 390 bilhões de reais em 2021, alta de 33,6% frente ao atingido em 2020.
O programa Aliança da Soja também entrevistou o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), André Dobashi. A área de produção do grão no estado cresceu 247% entre 1977 e 2021 e, segundo ele, tal incremento só foi possível graças à produção responsável, conversão de áreas de baixíssima produtividade em terrenos rentáveis, produção com respeito ao meio ambiente e à sociedade. “Nosso papel é simplesmente o de colocar alimento de qualidade na mesa do consumidor e levar para fora do Mato Grosso do Sul, do Brasil, a mesma qualidade que a gente vem conferindo em nosso estado”, enfatiza.
Produção de sementes
O vice-presidente da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat), Carlos Augustin, também participou do programa. De acordo com ele, a Embrapa já reconheceu a qualidade superior da semente no estado. “Mato Grosso possui aproximadamente um terço da produção de soja no Brasil e resolvemos aumentar o patamar de qualidade da semente acima dos critérios nacionais do Ministério da Agricultura por meio de uma iniciativa própria da Aprosmat. Saímos de 80% convencional para 85% de germinação, o que nos levou a ter uma distinção nacional reconhecida por uma enquete feita pela Embrapa com os produtores, que disseram que a melhor semente do Brasil é a do Mato Grosso”, conta.
Segundo Augustin, o estado tem uma particularidade de chuvas durante a colheita que afeta a produção de sementes, interferindo na secagem. “Nos últimos 30 anos viemos melhorando essa situação tecnológica de secagem, nos colocando no patamar de qualquer semente do Brasil ou até melhor. Também estamos investindo muito na climatização. Diria que 80% dos produtores de sementes de Mato Grosso têm ar condicionado em seus armazéns, o que segura a qualidade por mais tempo.”
Gargalo do setor
O diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sergio Mendes ressaltou no Aliança da Soja um dos principais gargalos do setor: as dificuldades logísticas. Nesse sentido, ele citou as reivindicações de produtores de vários estados brasileiros sobre políticas públicas para melhorar a questão. “Em relação aos Estados Unidos, temos uma diferença em torno de 40 dólares por tonelada. Ao multiplicar esse valor por nossa exportação de grãos (soja, milho e farelo), que são 130 milhões de toneladas, são mais de cinco bilhões de dólares que vão para o ralo e saem do bolso do produtor todos os anos”, afirma.
O fator do frete mínimo rodoviário também foi destacado por Mendes. “Somos absolutamente contra essa ideia porque precisamos ter mercado livre. Trazemos essa experiência de muitos anos: tudo o que estabelecemos de regra para a livre concorrência, acaba não dando certo”, acredita.
O programa Aliança da Soja (parceria do Canal Rural com a Plataforma Intacta 2 Xtend) vai ao ar todas as segundas-feiras, às 13h35, com reprise às terças-feiras, às 6h30.