O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, adiou mais uma vez a expectativa para o pico da inflação brasileira. Em evento da Esfera Brasil, em São Paulo, Campos Neto afirmou que o BC esperava que o ponto mais alto seria entre dezembro de 2021 e janeiro, mas citou a quebra de safra neste início de ano e o avanço dos preços de petróleo no mercado internacional como razões para postergação do pico da inflação. “Imaginamos agora que pico será entre abril e maio, e depois haverá queda mais rápida da inflação.”
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O presidente do BC também afirmou que o mercado de crédito continua saudável, embora em desaceleração. Porém, ele reconheceu que o endividamento das famílias piorou qualitativamente. “Mas não é algo que chama muita atenção ainda. O BC tem preocupação com isso. Tem projetos para os superendividados. E também há preocupação com os negativados, que estão fora do mundo financeiro e que gostaríamos que voltassem a ter acesso a crédito. Há uma série de medidas para quem está mais comprometido na cadeia de crédito.” Ainda durante o evento, Campos Neto afirmou que irá usar todas as ferramentas para trazer inflação para a meta.
Segundo ele, a curva de juros começou a desinclinar, embora a parte longa da curva seja afetada por questões fiscais. “Incertezas fiscais impactam a parte longa da curva”, disse.
Roberto Campos Neto também afirmou que a maior pergunta atualmente é quando será o pico da inflação no mundo. O presidente do BC destacou que o Brasil saiu na frente no combate à inflação. “Vai depender muito agora como se comporta no mundo desenvolvido, mais especificamente nos EUA.”
Além dos fatores externos, como o preços de importados, Campos Neto também afirmou que a inflação brasileira em 2021 teve impacto de fatores internos. Ele também voltou a destacar o impacto do aumento da energia na inflação brasileira em 2021. “Se o custo de energia no Brasil fosse a média do mundo, inflação em 2021 seria de 6,7%”, disse, destacando que também ficaria na média do mundo.
Inflação e oferta
O presidente do Banco Central disse que a produção e consumo de bens demanda seis vezes mais energia do que serviços, repetindo o argumento de que o aumento da demanda de bens na pandemia também explica parte do problema de energia no mundo.
A outra parte do problema diz respeito à limitação do financiamento em meio aos esforços de transição para economia verde. “Mercado de capitais e bancos estão mais fechados para financiar energia não limpa. Investimento em petróleo está na mínima com preço na máxima, há desconexão total.”
Campos Neto também repetiu que a crença de que a aceleração da inflação no mundo estava vinculada a problemas de oferta por causa da pandemia de Covid-19 não se comprovou e está mudando.
“Quem acreditou que inflação era um tema de oferta está revendo os conceitos”, disse.
Citando os dados dos Estados Unidos, Campos Neto repetiu que o aumento da demanda de bens está relacionada às políticas expansionistas desenvolvidas por causa da pandemia. “Houve amplificação bastante grande do balanço do Fed”, disse, citando também a expansão de políticas fiscais no mundo.