Por causa da estiagem, o Paraguai está encerrando a pior colheita de soja de sua história, com perda de 50% da produção. O país é o quarto maior produtor da oleaginosa no mundo e pode ter problemas de abastecimento no segundo semestre.
A Argentina também já diminuiu a projeção estimada para essa temporada. Já no Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduziu em 12,8% o volume esperado para 21/22, apontando colheita de 122 milhões de toneladas. Com os estoques mais baixos na América do Sul, o mercado deve sentir os impactos nos preços e nas exportações.
“O Paraguai, embora, obviamente, exporte muito menos do que o Brasil, tem sua importância no mercado internacional e costuma exportar de 5 a 6 milhões de toneladas do grão por ano e nesta temporada, naturalmente, vai ter que diminuir essa exportação”, afirma o consultor de Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez Roque. Desta forma, os estados brasileiros que fazem fronteira com aquele país também devem ser impactados.
“Um ponto interessante é que o Brasil costuma importar alguns volumes do Paraguai, principalmente nas regiões de fronteira, quando a conta fecha, obviamente. Nessa temporada, com a quebra na América do Sul e a quebra brasileira, a gente deveria importar mais do Paraguai, mas como o Paraguai também quebrou, então, infelizmente, a gente não vai conseguir importar o que a gente precisa nesta temporada”, completa.
O mês de março deve fechar com exportação de 14 milhões toneladas de soja, conforme a Safras & Mercado, mas com a baixa no estoque interno. Assim, os embarques do grão devem ser reduzidos no segundo semestre. “Neste ano a gente começou o estoque um pouco mais alto e ainda tem uma colheita que está sendo dentro do normal esperado, em termos de velocidade. Estamos conseguindo exportar bastante desde o início do ano, mas, em contrapartida, essa quebra da safra brasileira vai impedir que a gente acabe o ano exportando grandes volumes, então vamos ter que reduzir a exportação a partir do segundo semestre”, explica o consultor.
A redução dos estoques na América do Sul deve puxar a alta do preço da commodity. “A gente enxerga esse panorama para o resto do ano. Não vemos um grande fator, pelo menos até o momento, para mudar esse panorama de preços sustentáveis no Brasil. É óbvio que a gente está com uma entrada de safra acontecendo e isso acaba, naturalmente e sazonalmente, pesando um pouco nos preços, mas como as coisas são muito expressivas no Brasil nesta temporada, vemos o menor peso disso sobre os preços brasileiros. Entendemos que os prêmios devem continuar elevados pelos próximos meses”, finaliza Roque.