Um dos poucos remanescentes da equipe de ministros do primeiro mandato, Gil será substituído pelo secretário executivo da Cultura, Juca Ferreira. Ele disse que sai do ministério por questões pessoais, mas com um sentimento de perda e um ar de saudade. Gil reconheceu que sai com uma frustração: não ter conseguido elevar o orçamento da Cultura para, pelo menos, 1% de todo o dinheiro destinado a custeio e investimentos dos 37 ministérios.
O orçamento do Ministério da Cultura, neste ano, é de R$ 665,9 milhões, o que representa 0,60% do total de gastos das demais pastas.
Provocado pelos jornalistas, o ex-ministro disse que a música que resumiria o seu ciclo no ministério é Refazenda. Para ele, a canção representa também o governo Lula:
? O governo do presidente Lula significa uma refazenda extraordinária do país. Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão. O governo Lula teve a capacidade de fazer o país compreender o processo da transmutação da vida. É uma música que cederia como jingle.
Acompanhado da mulher Flora, Gil gastou menos de uma hora para convencer Lula a deixá-lo cuidar de seus projetos artísticos – o novo disco e shows. Neste ano, além das férias de um mês, ele tirou mais 40 dias de licença para fazer uma turnê internacional. Voltou ao Brasil no dia 27 e, em seguida, telefonou para Lula, pedindo a audiência. Argumentou com o presidente que estava vendo a proporção de 80% de dedicação ao ministério e 20% às atividades artísticas se desequilibrar.
? Aquela dose inicial que eu previ trabalhar foi se desequilibrando. Eu tive de me dedicar um pouco mais (à carreira). Mas nada absurdo ? disse Gil, sorridente e bem-humorado.
O ex-ministro já havia pedido para sair do governo no final do primeiro mandato de Lula e também no final do ano passado. Em longas conversas, Lula conseguiu demovê-lo da idéia. Desta vez, antes mesmo de conversar com Gil, Lula deixou claro que não teria como mantê-lo na equipe.
? Gilberto Gil não é imprescindível apenas para a política ? disse Lula.
Depois de conversar com Lula, Gil afirmou que a reunião foi positiva e que o presidente foi sensível a suas questões pessoais.
? Foram cinco anos e meio de convívio num governo importante e marcante para o Brasil ? afirmou, acrescentando ter cumprido seu dever.