As commodities agrícolas vêm batendo recordes de preço. Somente no último ano, a soja subiu 42%, o milho 62% e o algodão aumentou 101%. As altas também foram fortes no café (67%) e no açúcar (10%), que desde o ano passado vêm atingindo o recorde dos últimos trinta anos.
A disparada aparece nas bolsas e já provoca reações. Esta semana, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, culpou a especulação pela alta no preço dos alimentos. A presidente Dilma Roussef não acredita que as commodities são as responsáveis pelo desequilíbrio da economia mundial.
Já os analistas de mercado discordam. A Céleres Consultoria, especializada em soja e milho, garante que a alta se deve a, pelo menos, três fatores: o descompasso entre oferta e demanda, o aumento nos custos de produção e os problemas climáticos. O analista Anderson Galvão afirma que, no momento, a especulação é positiva para o mercado.
? A ação do especulador é extremamente bem vinda no sentido de sinalizar ao mercado de que os preços estão subindo. Digo que ele é uma parte extremamente importante deste mercado ? afirmou o especialista, que é diretor da Céleres Consultoria.
Outro motivo para os recordes de preço, segundo o analista, é o aumento da renda nos países emergentes. Principalmente no mercado de milho, que registra altas desde o segundo semestre do ano passado.
? O milho, em particular, tem um agravante. Nos últimos 10 anos, no caso dos Estados Unidos, que é o maior produtor mundial de milho, praticamente todo o grão que foi produzido a mais está sendo consumido para produção de etanol no país. Praticamente 100 milhões de toneladas de milho foram automaticamente absorvidas para a produção de etanol, o que não deixa de ter impacto sobre o mercado ? completa Galvão.
Amaryllis Romano, da Consultoria Tendências, diz que os quatro primeiros meses tendem a ter os melhores preços do ano. Para a analista, os baixos estoques mundiais também reforçam o cenário de preços elevados.
? O mundo não tem conseguido recompor os estoques no ritmo que esse crescimento da demanda precisaria. Você vê uma situação muito limite, onde a oferta todo ano tem que estar contando com uma produtividade mais alta possível, para atender ao crescimento da demanda, sob pena de você ter que entrar nos estoques que foram acumulados e nem são tão altos ? afirma Romano.
No açúcar, os analistas também evitam culpar a especulação. O produto vem apresentando alta nos últimos seis meses. E, na avaliação da Archer Consulting, o motivo é a redução na safra mundial. Houve quebra na produção da Austrália. Enquanto isso, o Egito, maior comprador mundial, anunciou aumento nas compras. Arnaldo Correa, diretor da Archer, prevê preços remuneradores pelo menos nos próximos cinco anos.
? O mercado está invertido. Os vencimentos mais curtos são maiores do que os vencimentos mais longos. Mas isso me deixa preocupado. Commodity é cíclico. Quando se tem preços altos, acaba incentivando outros produtores para que haja maior produção, e isso traz preços mais baixos ? analisa Correa.
Para o produtor rural, mesmo com os altos valores no mercado, a recomendação dos analistas é planejamento e cautela.
? Aqueles produtores rurais que têm conseguido crescer, que tem conseguido expandir a sua atividade de forma sustentável, são aqueles produtores que têm planejamento. E planejamento não significa comprar um computador sofisticado, às vezes basta um bom caderno ? garante Galvão, da Céleres.
? Não vou ser eu que vou chegar ao produtor e falar ‘venda tudo agora porque é o melhor preço’. Acho que é melhor fazer uma média ao longo prazo, mas tendo em mente que preços historicamente em picos não são possíveis que se sustentem por tanto tempo assim ? afirma Romano, da Tendências.
? Se ele está tendo lucro, ele tem que começar a pensar em colocar esse lucro dentro do bolso, realizando vendas para entrega futura. Não pode achar que o preço vai sempre subir, porque não tem preço que só sobe, assim como não tem preço que só cai ? argumenta Correa, da Archer.