A União Europeia está avançando em legislação que deverá proibir a importação de soja e de outras commodities agrícolas que tenham origem em áreas desmatadas ou de conversão da vegetação nativa.
O Reino Unido, especificamente, discute legislação para frear o desmatamento ilegal nas suas importações de grãos, enquanto o parceiro comercial mais importante do país, a China, começa a estudar medidas parecidas.
Para auxiliar as empresas comercializadoras de soja brasileira a atender essas novas realidades, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal (Imaflora) e a The Nature Conservancy (TNC) elaboraram um guia que traz uma proposta de roteiro para a produção de relatórios de progresso sobre soja livre de desmatamento em dois dos principais biomas do país: Cerrado e Amazônia.
Busca por transparência
O coordenador de projetos sênior do Imaflora, Lisandro Inakake, explica que a diversidade de metodologias e indicadores atualmente utilizados nos relatórios de progresso são insuficientes para compreender os impactos ambientais e sociais associados à soja.
Além disso, nas informações atualmente apresentadas pelas empresas é difícil acompanhar a evolução na implementação de seus compromissos socioambientais.
Desta forma, o objetivo do guia é compilar as informações e boas práticas de forma a facilitar a criação dos relatórios e dar mais transparência aos processos do cultivo à comercialização final.
“Esse roteiro oferece às traders e demais empresas do setor um parâmetro de comunicação e transparência sobre a soja originada na Amazônia e no Cerrado brasileiros e, na outra ponta da cadeia agroindustrial, permitirá que os compradores do grão e demais partes interessadas compreendam a performance e a evolução dos compromissos das empresas em relação à eliminação do desmatamento e conversão da vegetação nativa e ao respeito aos direitos humanos no processo de originação da soja”, afirma Inakake.
Informações básicas
A gerente global da Estratégia Zero Conversão da TNC, Melissa Brito, ressalta que o guia vai preencher lacunas de informações básicas que, muitas vezes, não constam de relatórios de progresso – como data de referência, fornecedores indiretos e alcance geográfico.
Poderá ajudar, também, as empresas a se posicionarem, formarem parcerias e a identificarem oportunidades comerciais, ao demostrarem progresso objetivo e melhorias contínuas no cumprimento de seus compromissos de zero desmatamento.
“Empresas compradoras, as chamadas downstream, estão procurando formas de serem proativas e parceiras na transição de produção de zero desmatamento e com respeito aos direitos humanos. O roteiro cobre exatamente as informações que buscam, de maneira objetiva, para que possam auxiliar as traders que reconhecem e divulgam onde há dificuldades em acelerar seus respectivos progressos, assim como premiar os que realmente estão progredindo,” detalha Melissa.
Segundo ela, é possível que as empresas downstream passem a exigir relatórios de progresso coerentes com o guia e a oferecerem, inclusive, condições mais favoráveis de compras. “Elas também assumiram compromissos de eliminar o desmatamento e violações de direitos humanos nas suas cadeias de valor. O roteiro oferece uma régua objetiva e com base nas dinâmicas de comercialização para captar progresso ano a ano”, adiciona.