Um novo sistema de cultivo de erva-mate desenvolvido pela Embrapa Florestas permite até 10 safras em 18 meses, ou seja, nove a mais que a tradicionalmente obtida com a cultura, que é apenas uma no mesmo período. Batizada de Cevad-estufa, uma versão do sistema Cevad para estufas.
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Além disso, ela também tem potencial para desenvolver novos produtos, principalmente diferentes tipos de chá mate feitos a partir de folhas novas, já que as plantas são cultivadas como pequenos arbustos em calhas dentro das estufas.
De acordo com as informações da Embrapa, o sistema ainda precisa ser validado com os agricultores, mas os resultados são promissores. Entretanto, podem contribuir para elevar a erva-mate a um patamar superior no mercado de chás e outros produtos de maior valor agregado, além de ampliar sua comercialização no Brasil e no mundo.
Segundo o pesquisador Ivar Wendling, o Cevad-estufa tem como objetivo colher as folhas jovens e não maduras. Elas que são tradicionalmente utilizadas para produzir a bebida parecida com o chá servido em cabaças chamadas chimarrão. Assim como o chá preto, o chá verde e o chá branco são feitos a partir das folhas da Camellia sinensis, que requerem processos diferentes.
Com isso, será possível processar de forma semelhante às folhas da erva-mate (Ilex paraguariensis) e gerar chás com sabores distintos e maiores concentrações de cafeína e antioxidantes. Isso também pode ser potencializado com o uso de cultivares melhoradas de erva-mate, que devem ser lançadas pela Embrapa Florestas nos próximos três anos.
Custos de implantação
A adoção do Cevad-estufa, que difere totalmente do cultivo no campo, demandará maiores custos para implantação. Pois envolve investimentos em casa de vegetação, calhas, aquisição de grande quantidade de mudas, assistência técnica e mão de obra especializada para o manejo, bem como como fertilizantes para nutrição adequada.
“Apesar do custo inicial, o sistema oferece grande potencial não só de produtividade, mas também de geração de matéria-prima diferenciada. Com essas vantagens, espera-se que o investimento da implantação seja pago ao longo do tempo e gere bons retornos econômicos”, afirma o pesquisador. “Além disso, tem maior potencial de automação”, complementa.
Produção no sistema e caracterização química
O doutorado de Jéssica Tomasi avaliou a produção de biomassa ao longo de um ano e a composição de compostos bioativos a partir de diferentes clones e dosagens de nitrogênio em sua solução nutritiva. Os resultados de produtividade apresentaram pouca oscilação ao longo de seis safras no ano. Sendo confirmado o potencial do sistema em termos de produção contínua e variação entre genótipos. Tomasi também concluiu que há influência da sazonalidade no conteúdo de compostos bioativos como a cafeína e diferentes tipos de antioxidantes.
Contudo, outro estudo sobre Cevad-estufa, conduzido pelo doutorando Leandro Vieira, analisou aspectos relacionados ao enraizamento de miniporta-enxertos e produção de matéria fresca de erva-mate. Em tese, a composição química de 15 clones também foi avaliada quanto aos teores de cafeína, teobromina, compostos fenólicos, açúcares e proteínas totais.
Resultados inéditos
Constatou-se que, em geral, os genótipos de erva-mate apresentam características específicas quanto à composição química. Sendo elas: rendimento, potencial de propagação, necessidade do uso de reguladores vegetais, sazonalidade, intervalo entre colheitas. Entre outros aspectos, o que demonstra como as cultivares estudadas podem atender de forma viável nichos de mercado para produtos específicos.
“A produção de matéria fresca no novo sistema se mostrou inédita e resultados inéditos podem se tornar um sistema de cultivo voltado para a produção de matéria-prima para a indústria da erva-mate”, afirma Vieira. Além disso, dois genótipos se destacaram pelos altos teores de compostos fenólicos totais, proteínas, cafeína e alta atividade antioxidante. Outro genótipo apresentou alta produção de matéria fresca no cultivo Cevad-estufa, o que permitiu a produtividade anual de 96,16 toneladas por hectare, segundo o estudo.
“Genótipos altamente produtivos e com características químicas diferenciadas podem resultar em produtos que despertam grande interesse da indústria da erva-mate. Assim, o conhecimento das características de cada genótipo quanto às exigências nutricionais, cultivo, poda, propagação, entre outros fatores, tem potencial para aumentar a eficiência na multiplicação e cultivo da erva-mate”, afirma o ex-doutorando.
Cevad-estufa pode resultar em cápsulas antioxidantes, uma novidade no mercado
Sobretudo, estudos apontam para a existência de cerca de 200 compostos químicos nas folhas de erva-mate, muitos dos quais potencialmente bioativos. Com este novo sistema de produção, além de chás especiais. No entanto, é possível extrair compostos para a produção de cosméticos, suplementos alimentares e fármacos para diversas finalidades.
Uma das opções são as cápsulas ou sachês com pó de extrato de erva-mate, que oferecem importante efeito antioxidante. Outra linha de produtos são os estimulantes, devido à alta qualidade e concentração de cafeína nas folhas jovens de erva-mate de materiais genéticos melhorados. “Até onde sabemos, ainda não existem cápsulas diferenciadas disponíveis no mercado, nem cafeína e antioxidantes extraídos da erva-mate em escala comercial, o que torna esses estudos muito promissores”, ressalta Wendling.