Baseado em análises dos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, Baccarin aponta que em maio de 2010 ? mês em que há o pico da safra ? trabalhavam na colheita manual 166,4 mil pessoas. Ele estima que 150 mil desses cortadores de cana sejam dispensados até 2014, último ano para o fim da queima da palha da cana, necessária para o corte manual, em todas as áreas mecanizáveis do estado. O prazo foi estabelecido em um protocolo assinado entre o governo estadual e a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica).
O Ministério Público Federal tem pressionado por um processo de licenciamento mais rigoroso para permitir as queimadas no estado. No fim de janeiro, uma ação impetrada pelo órgão foi acatada pela Justiça Federal, que suspendeu a queima na região de Franca, interior do Estado.
Algumas prefeituras têm buscado formas de amenizar esses efeitos, segundo Baccarin. A Unica desenvolve desde o ano passado um programa de requalificação de cortadores chamado Renovação.
? É um modelo em que o trabalhador continua recebendo o salário dele, mas estuda em período integral ? explica a assessora de Responsabilidade Social Corporativa da entidade, Maria Luiza Barbosa.
A meta do projeto é, por ano, qualificar para outras atividades 7 mil trabalhadores braçais. Parte deles será realocada pela própria indústria canavieira, mas a maior parcela terá de ser absorvida por outros setores. Caso cumpra o proposto, o Renovação capacitará 35 mil cortadores até 2014.
O presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Regente Feijó (SP), Marcelino Sotocorno, afirma, no entanto, que as usinas têm preferido empregar trabalhadores mais qualificados a ex-cortadores na colheita mecanizada. Segundo ele, foi preciso pressionar as empresas para que os cortadores fossem qualificados para os postos.
Para o presidente do Sindicato de Empregados Rurais de Ribeirão Preto (SP), Sílvio Palviqueres, a requalificação ainda é “mínima” em comparação à velocidade da mecanização. Segundo ele, na região, uma das maiores produtoras de cana do estado, uma parte dos trabalhadores é absorvida pela construção civil.